Estigma, estigma, quem és tu
PEDRO
Passos Coelho ficou com o estigma de ter dito uma tolice. Louçã,
Seguro, Jerónimo caíram-lhe em cima. Estigmatizaram Passos Coelho.
Mas,
sabem?, eu estou-me nas tintas para os estigmatizadores e, até, para os
estigmas. O meu problema é a tolice. A tolice dita: "Despedir-se ou ser
despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma
oportunidade para mudar de vida." A tolice repetida: "Estar desempregado
não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal
negativo." E ainda a tolice servida com dose de hipocrisia: "[Os
desempregados] perceberão que terão, por parte do Estado, o apoio devido
para se prepararem para um futuro." Tudo frases de Passos Coelho, e eu
diria que também me estava nas tintas para o estigmatizado que disse as
tolices, não fosse a última versão - garantindo "por parte do Estado, o
apoio devido" - ser cínica, porque veio de um primeiro-ministro.
Dito
isto, o problema é a tolice. É que o problema do desemprego não é o
estigma - é mesmo o desemprego.
É que o problema não é de como se olha o
desempregado ou de como ele se sente olhado - é ele não ter uma coisa:
trabalho. Não essa ideia, não. Essa coisa.
Do que menos precisamos é de
um primeiro-ministro armado em psicólogo. Queremos um primeiro-ministro
que trate das coisas. Podia começar por isto: arranjar quem lhe corrija
os discursos. Sem receio que isso cause estigmas em alguns inúteis.
«DN» de 13 Mai 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
Eu, quando for grande, gostava de ser Ferreira... Fernandes. Esta crónica - como quase todas - é uma maravilha: Mas, esta, abusa!
Um grande abraço FF
Grande azar:
Tínhamos um primeiro ministro que não via a realidade.
E temos outro que sofre do mesmo mal.
E, para cúmulo, isto já vem de há muito.
Estamos bem arranjados. Ou gregos.
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