11.5.12

Presuntos implicados

Por Ferreira Fernandes
HÁ UNS TEMPOS, um restaurante lisboeta foi multado por também lá se dançar. As proibições irritam-me, a irritação dá-me para crónicas e, nessa altura, lavrei uma a que chamei "Pezinhos de dança e de coentrada." Admiti a possibilidade de crime e que, entre o tornedó e o tiramisù, comensais se levantassem e dançassem. Mas sugeri que os polícias, perante um par a dar um passo para a direita e dois para a esquerda, "não vissem nisso tango mas só a gentileza de dois clientes tentando dar passagem um a outra"... 
Agora, novo caso, mas inverso, aconteceu longe, na Argentina, onde a Presidente Cristina Fernández Kirchner proibiu a entrada do jámon español, que no caso são (por enquanto) os únicos presuntos implicados. Uma casa de tangos tornar persona non grata um presunto é absurdo digno de um conto de Julio Cortazar ou de uma peça teatral de Copi. Assim, à velha pergunta "que livro levava para uma ilha deserta?", eu responderia hoje: depende. Se a ilha fosse a Argentina (e é nisso que ela se está a tornar), eu trocaria qualquer livro por um presunto de Jabugo. É que em Buenos Aires encontro as mais belas e fornecidas livrarias do mundo, mas aquele ibérico de bellota só importado. E, depois, alertaria para o essencial: quando os governos investem em protecionismos demagógicos e inimigos externos (das ovelhas das Malvinas/Falkland aos porcos ibéricos), começam por proibir o presunto para chegarem exatamente aos livros.
«DN» de 12 Mai 12

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