Capturas de informação
ONTEM,
todo orgulhoso, passeei o dia parecido com o Kirk Douglas. Na verdade,
eu era só parecido no chapéu, o de Kirk Douglas a fazer de jornalista em
O Grande Carnaval, de Billy Wilder. Ontem, eu também andei de chapéu
com um anúncio metido na faixa, dizendo "PRESS", em inglês para ser mais
notório. Bem ouvi os suspiros e as admirações. Claro, ia ali um
jornalista! Isto é, um tipo entre o Batman, o Pimpinela Escarlate e um
jovem hacker.
Nós, os jornalistas, subimos as paredes, violamos as
gavetas e esmiuçamos os computadores para converter os segredos
judiciais em manchetes. Sozinhos! Não sou eu a gabar-me, foram os
tribunais que o reconheceram. Não leram? O Emídio Rangel sugerira que
tudo nos era dado de mão beijada - ele falou de juízes e outros
magistrados. Como se nós fôssemos simples pombos-correio aos quais se
deita milho! Felizmente, um tribunal, com juiz e outros magistrados,
disse que os juízes e outros magistrados não têm nada a ver com o
milagre da multiplicação das fugas de informação. Condenou Rangel a
pagar 106 mil euros aos magistrados. (É essa a tabela para um condutor
bêbado que esmaga uma grávida, não é?)
Mas o importante é que ficou a
saber-se que os papéis sigilosos vou eu desencantá-los, sozinho. Não há
fugas de informação, só capturas. Daí o orgulho do meu chapéu: "PRESS",
de arrojado investigador. A partir de agora, só o tiro de madrugada,
quando vou ao DIAP vasculhar mais uns processos.
«DN» de 9 Mai 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home