9.5.12

Capturas de informação

Por Ferreira Fernandes
ONTEM, todo orgulhoso, passeei o dia parecido com o Kirk Douglas. Na verdade, eu era só parecido no chapéu, o de Kirk Douglas a fazer de jornalista em O Grande Carnaval, de Billy Wilder. Ontem, eu também andei de chapéu com um anúncio metido na faixa, dizendo "PRESS", em inglês para ser mais notório. Bem ouvi os suspiros e as admirações. Claro, ia ali um jornalista! Isto é, um tipo entre o Batman, o Pimpinela Escarlate e um jovem hacker
Nós, os jornalistas, subimos as paredes, violamos as gavetas e esmiuçamos os computadores para converter os segredos judiciais em manchetes. Sozinhos! Não sou eu a gabar-me, foram os tribunais que o reconheceram. Não leram? O Emídio Rangel sugerira que tudo nos era dado de mão beijada - ele falou de juízes e outros magistrados. Como se nós fôssemos simples pombos-correio aos quais se deita milho! Felizmente, um tribunal, com juiz e outros magistrados, disse que os juízes e outros magistrados não têm nada a ver com o milagre da multiplicação das fugas de informação. Condenou Rangel a pagar 106 mil euros aos magistrados. (É essa a tabela para um condutor bêbado que esmaga uma grávida, não é?) 
Mas o importante é que ficou a saber-se que os papéis sigilosos vou eu desencantá-los, sozinho. Não há fugas de informação, só capturas. Daí o orgulho do meu chapéu: "PRESS", de arrojado investigador. A partir de agora, só o tiro de madrugada, quando vou ao DIAP vasculhar mais uns processos. 
«DN» de 9 Mai 12

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