A fé que move montanhas
Por Manuel António Pina
A FÉ CEGA de Vítor Gaspar em que a receita neoliberal que aprendeu nos
livros (mais empobrecimento dos pobres e mais enriquecimento dos ricos)
resolverá, se o Deus Mercado quiser, todos os problemas do país é de
tipo mágico e não de tipo racional, a versão em economista do mito
infantil segundo o qual, se acreditarmos muito numa coisa, ela acabará
por realizar-se.
Da História, tal tipo de fé aproveita apenas
aquilo que a reforça, ignorando tudo o que a contraria: se funcionou no
Chile de Pinochet, porque não há-de funcionar em Portugal?; ou:
"Portugal não é a Grécia". E o mesmo da realidade: ainda há dias, uma
descida episódica dos juros da dívida pública era um "sinal" de que
vamos no bom caminho, agora que os juros voltaram a subir, isso já não é
sinal de coisa nenhuma.
O método até pode, sabe-se lá, vir a dar
certo. Pelo menos deu certo com aquele personagem de Carl Sandburg que
comprou o 42 na Lotaria, anunciando que era nesse número que iria sair a
"taluda" e que, quando o 42 de facto saiu, perguntado se acertara por
palpite ou se usara um método, respondeu algo do género: "Usei um método
científico: atirei ao ar o álbum de família e ele caiu aberto na página
7, onde estavam as fotos do meu avô e da minha avó. O meu avô e a minha
avó ambos na página 7, estão a ver? Ora 7 vezes 7 são 42..."
«JN» de 9 Mai 12Etiquetas: MAP
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