Futebol rasteirinho
Por Ferreira Fernandes
DE REPENTE, parece que toda a gente desatou a falar como aqueles
rapazes de boné com pala ao contrário ou, pior, o Presidente Cavaco a
fazer uma declaração sobre o Estatuto dos Açores. Linguagem cifrada,
onde o piscar de olho faz de gramática.
Tudo começou com Luís Filipe
Vieira, presidente do Benfica, a dizer: "Um ladrão não deixa de ser
ladrão por ir ao Papa." É certo que em 1944 a Rádio Londres também se
pôs a não dizer coisa com coisa ("Os longos soluços/ dos violinos/ do
outono..."), e quem devia entender entendeu que o desembarque aliado
estava para breve. E sempre era poesia de Verlaine.
O que mais me
chateia na frase de Vieira não é tanto o código cerrado, mas não ter
ousado um remate de canção de encarnado pino: "Um ladrão não deixa de
ser ladrão por ir ao Papa, ai Deus e u é." Em resposta, julgo (mas vá lá
saber-se), o FC Porto também endoidou e disse em comunicado: "Burros
são os que só tiram a cabeça da toca de vez em quando." Se a imagem
fosse com uma raposa, ela vinha albardada. Aliás, os portistas
aproveitaram o patrão fora da loja, Pinto da Costa está no Brasil, para,
mais do que responder, publicarem um tratado de charadismo: "Burros são
os que confundem risco com linha" (a solução será Magritte?) e "burros
são os que julgam que Coca-Cola só tem quatro letras" (esta é óbvia: é
um sms do SIED).
Este ano, o defeso abriu com jogos florais, cujo mote
é: com código mas sem ética.
«DN» de 26 Mai 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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