Espanha a aportuguesar-se
A CRISE financeira europeia levou os espanhóis a aderir à pega de
cernelha. Resgate? Claro que não, dizem eles, é só um empréstimo aos
bancos.
A Espanha é uma família em que lá em casa os pais são pagadores
fiáveis, os filhos é que precisam de umas ajudazitas externas. A
falência espanhola mora naquela categoria de limbo em que vivem as quase
grávidas. Ora isso, que em português seria natural (não cultivamos nós o
assim-assim e os ângulos curvos?), em Espanha rompe com a tradição. No
país do "hay gobierno? Soy contra", à esquerda, e "viva la muerte!", à
direita, onde se anuncia nas desoladas estradas com os cornos
pontiagudos dos touros de Osborne, onde, nas guerras civis, uns atiravam
padres do alto dos campanários e outros fuzilavam em massa nas praças
de Badajoz, a imprensa doura a pílula: "resgate suave" e "descafeinado",
diz ela...
Para onde foi a "fúria espanhola"? Filipe II (deles, I,
nosso) quando veio a Lisboa pedir a coroa, não esteve com meias medidas:
"Este reino é meu, porque herdei-o, comprei-o e conquistei-o", disse
brutalmente. Agora, Mariano Rajoy anda a pedir coroas por Bruxelas com
todos os cuidados semânticos.
Os leitores que se irritam por eu escrever
demasiado sobre futebol deviam dar-lhe a importância que de facto tem:
ele molda o carácter. O país onde antigamente os guarda-redes se
chamavam Zubizarreta passou a jogar em dolentes tique-taques e agora nem
assumem um resgate com salero.
«DN» de 22 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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