Agasalhados do mar ao ar
A 10 DE JUNHO, publiquei no DN duas páginas inventadas, claro, com uma
entrevista a um navegante de Quinhentos. O entrevistado era falso mas os
dados referidos pelo marinheiro eram verdadeiros, retirados de livros
de História, citados no fim do artigo. Uma das respostas do meu
navegante lembrava que a Casa da Índia, que geria o comércio trazido
pelas naus da rota do Oriente, tinha de entregar, nos finais de 1500,
cerca de 40 por cento da carga ao capitão, pilotos e mestres de cada
barco (na sua fundação, em 1503, aquele direito era só de oito por
cento). Quer dizer, aquele punhado de tripulantes, além do soldo, ficava
com quase metade das especiarias, seda e goma lacada, fruto de um
negócio que era um desígnio nacional e antigo - nascido com a plantação
de pinhais, a construção de estaleiros, a presciência de reis, o saber
de cosmógrafos e a coragem de soldados. E esse desígnio nacional acabou
em quase metade da pimenta e canela abarbatada por alguns - justamente
conhecidos por "agasalhados" - cuja força lhes vinha de ocuparem a
cabina e poderem chantagear: ou temos metade do espaço da nau para o
nosso tráfico ou não há Império nem Índia para ninguém...
Em fins de
Quinhentos a Casa da Índia estava falida.
Esta semana, os pilotos da TAP
anunciaram que farão greve em julho e agosto (quando mais mal faz aos
portugueses). Esses pilotos consideram-se com direito a 20 por cento na
privatização da TAP. Porque não 40?
«DN» de 20 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
20 é pouco.
40 não chega.
De-se-lhes 60 e reze-se para que fiquem satisfeitos.
Já eu, quero 1% do que estiver na próxima mala que a Troika trouxer.
Parece-me justo.
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