20.6.12

Agasalhados do mar ao ar

Por Ferreira Fernandes
A 10 DE JUNHO, publiquei no DN duas páginas inventadas, claro, com uma entrevista a um navegante de Quinhentos. O entrevistado era falso mas os dados referidos pelo marinheiro eram verdadeiros, retirados de livros de História, citados no fim do artigo. Uma das respostas do meu navegante lembrava que a Casa da Índia, que geria o comércio trazido pelas naus da rota do Oriente, tinha de entregar, nos finais de 1500, cerca de 40 por cento da carga ao capitão, pilotos e mestres de cada barco (na sua fundação, em 1503, aquele direito era só de oito por cento). Quer dizer, aquele punhado de tripulantes, além do soldo, ficava com quase metade das especiarias, seda e goma lacada, fruto de um negócio que era um desígnio nacional e antigo - nascido com a plantação de pinhais, a construção de estaleiros, a presciência de reis, o saber de cosmógrafos e a coragem de soldados. E esse desígnio nacional acabou em quase metade da pimenta e canela abarbatada por alguns - justamente conhecidos por "agasalhados" - cuja força lhes vinha de ocuparem a cabina e poderem chantagear: ou temos metade do espaço da nau para o nosso tráfico ou não há Império nem Índia para ninguém... 
Em fins de Quinhentos a Casa da Índia estava falida. 
Esta semana, os pilotos da TAP anunciaram que farão greve em julho e agosto (quando mais mal faz aos portugueses). Esses pilotos consideram-se com direito a 20 por cento na privatização da TAP. Porque não 40? 
«DN» de 20 Jun 12

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1 Comments:

Blogger Mg said...

20 é pouco.
40 não chega.
De-se-lhes 60 e reze-se para que fiquem satisfeitos.

Já eu, quero 1% do que estiver na próxima mala que a Troika trouxer.
Parece-me justo.

20 de junho de 2012 às 23:21  

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