Ser grunho afinal tem cura

Por Ferreira Fernandes

COMO não quero fazer publicidade não vou dizer qual a marca de refrigerantes com borbulhas mas dou uma pista: as iniciais são C. C. Então, a C. C. inventou dois grunhos, um do FC Porto e outro do Benfica, daqueles que já ouvimos dizer, um, que gostaria de ver "Lisboa a arder" e, outro, que "derrota os porcos" - dois, pois, um para o outro na vida real (desconfio até que sejam compadres) - e pô-los a ser grunhos na ficção de um anúncio. Neste, um diz que os outros são "nojentes", outro diz que prefere uma dor de dentes a ter de abraçar o outro, o outro do outro diz que abraço só se for para esganar e o outro do outro do outro diz que abraço só na zona do pescoço... Grunhos, pois, como os que de facto há e, embora minoritários até nas bancadas dos estádios, têm, como disse Sophia sobre o velho abutre, "o dom de tornar as almas mais pequenas." 

C. C. mostra-nos os dois grunhos em todo o seu esplendor - cada um puxando as cinzas para o seu esterco. Ora os dois grunhos, como Saul a caminho de Damasco e a caminho de ser São Paulo, encontram a via da seleção, perdão, da salvação. Vão ver um jogo da equipa nacional, sem saberem que o que se senta ao seu lado é um grunho do FCP e um grunho do Benfica. E, no momento de um golo português, os dois caem no braço um do outro, abraçam-se. 

Embora eu considere que a grunhice só aos não grunhos se estranha, aos grunhos entranha-se, louvo a mensagem salvadora do anúncio. 

«DN» de 19 Jun 12