Ovos & estatísticas
Por Manuel António Pina
EM PAÍSES como Portugal, onde o fosso entre ricos e pobres é cada vez
maior, as estatísticas trazem sempre boas notícias. Assim, os
portugueses ficaram ontem a saber pelo INE que vivem num país onde o
rendimento médio líquido (líquido!) das famílias é de 1984 euros por
mês.
Muitos hão-de estar a matutar sobre quem lhes ficou com o que
falta aos 1984 euros líquidos mensais que a sua família terá recebido
entre Março de 2010 e Março de 2011, e esse é o lado bom das
estatísticas: dão que pensar. É conhecido o dito segundo o qual, se
alguém comeu dois ovos e outrem não comeu nenhum, para as estatísticas
comeram ambos um. Infelizmente, a maioria dos portugueses apenas tem
hoje para comer os ovos estatísticos de que se alimentam os discursos
políticos, que passam quase sempre ao largo do facto de, por cada
família a auferir, por exemplo, 19 840 euros mensais (já nem falo das
que auferem 198 400), ter que haver dez outras a sobreviver com 198,4.
Os
números do INE dão também uma ideia do que é a evasão fiscal entre nós:
em 2009, enquanto os trabalhadores por conta de outrem ganharam em
média 11 378 euros anuais, os profissionais liberais ganharam... 1593
(isto é, 132 miseráveis euros por mês). O meu coração sangra de
comiseração: como é que os médicos, advogados, economistas, engenheiros,
etc., que trabalham por conta própria conseguem pagar as rendas dos
consultórios?
«JN» de 21 Jun 12Etiquetas: MAP
1 Comments:
As estatísticas servem sempre para o que se quer... tenho pena de que quando falam em médias, nunca ninguém revele o desvio padrão associado... Afinal existe uma medida para ter a noção destes coisas...
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