O nascer de uma Alegria do Povo
DE TODOS os cognomes de futebolistas, o melhor foi dado a um doido
maravilhoso: "Alegria do Povo". Do brasileiro Garrincha, o poeta Carlos
Drummond de Andrade dizia que estava incumbido por um Deus irónico e
farsante para "zombar de tudo e de todos". Adversários e companheiros,
vulgarizados pelo individualismo do génio, talvez não lhe perdoassem,
mas o povo ficava-lhe grato pelo júbilo e exaltação.
Há mais de meio
século, os entendidos escolhem o Bola de Ouro, "o melhor futebolista
mundial" - e todos os anos houve um. Mas provavelmente "Alegria do Povo"
só terá havido três, Garrincha, o irlandês George Best e o argentino
Maradona. Por vezes as suas equipas ganhavam com a exibição do jogador,
mas o que era certo é que ganhava o povo, que mais não fosse, pela
expectativa. Não sem razão, Garrincha, Best e Maradona tinham vícios
públicos que mais douravam a aura que os crentes lhes emprestavam - ser
angélico nunca beneficiou os grandes artistas.
Ou muito me engano ou
2012 marca a descoberta mundial do quarto "Alegria do Povo", Balotelli.
Tem doidice para lançar fogo de artifício na casa de banho ou para um
colega se ver obrigado a tapar-lhe a boca em pleno campo, tem estilo
para celebrar como uma estátua e tem a noção de golo como uma obra de
arte - é único. Acresce que tem uma vida para ser contada num beijo
trágico à mãe. Amanhã não sei se vou ver a final, mas para o Balotelli
estou lá batido.
«DN» de 30 Jun 12
1 Comments:
A porta de entrada no teu prédio?
Já convocaste uma assembleia geral para a substituição?
És mais PCP que PPC.
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