"Zona de conforto"
Por Manuel António Pina
A
CRER na OCDE, os portugueses, sobretudo os mais jovens e qualificados,
estão-se nas tintas para o apelo feito por Cavaco Silva em Sydney:
"Fiquem em Portugal". E é a debandada geral: todos os anos 70 000 de
nós, a maior parte com menos de 29 anos, abandonam o país que os
abandonou.
Muitos são engenheiros, arquitectos, professores,
cientistas, que levam na bagagem conhecimento técnico, doutoramentos,
mestrados, licenciaturas, e a frustração por terem nascido num país que
os enjeita, castigando-os por terem perdido anos a estudar e
qualificar-se em vez de, como outros, se arrebanharem numa "jota" a
colar cartazes e a aprender as florentinas artes da intriga, do
servilismo e da ausência de pensamento próprio. E, por cima de tudo
isto, são ainda alguns destes últimos, "emigrados" hoje nos cadeirões da
AR ou do Governo e amanhã nos de alguma empresa pública, quem lhes
aponta a porta de saída: "Deixem a vossa 'zona de conforto' e ponham-se a
andar".
O "conforto" de que falam governantes e deputados da
maioria é a humilhação diária do desemprego ou de empregos precários
(mais ou menos como o de Eduardo Catroga) como aquele que recentemente
oferecia o IEFP do ministro Álvaro a arquitectos com, no mínimo,
mestrado, domínio do inglês e francês e conhecimentos de design de
interiores, desenho 3d e autoCad: um horário de trabalho das 9.30 às
19.30 e salário mensal de 500 euros.
«JN» de 28 Jun 12Etiquetas: MAP
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