26.6.12

"O ovo da serpente"

Por Manuel António Pina
UM DOS momentos mais tocantes da entrevista a Edward Witten (que formulou a chamada "M-teoria" das supercordas, até agora a mais perfeita conjectura matemática de uma "teoria do tudo" e é considerado pela generalidade dos seus pares o maior físico teórico vivo) na série "Da beleza e consolação" é quando o entrevistador lhe pergunta o que pensa ele da "Shoah" e dos campos de extermínio nazis onde perdeu grande parte da sua família.
Witten ficou de olhos baixos e em silêncio durante intermináveis segundos. No fim, só conseguiu dizer: "Não sou capaz de compreender".
Ocorreu-me este episódio ao conhecer notícias recentes sobre a amnésia generalizada em que se gera o regresso da irracionalidade racista. Na Hungria, ao mesmo tempo que escritores nazis são hoje de leitura obrigatória nos curricula escolares, erguem-se estátuas ao "herói nacional" Miklós Horthy, regente do país entre as duas guerras e autor das primeiras leis anti-semitas da Europa Ocidental, responsável pelo envio de 450 mil judeus para campos de extermínio. Mais chocante ainda é o que se passa por estes dias em... Israel: imigrantes negros vítimas de ataques - casas queimadas, espancamentos e outras agressões - e classificados pelo próprio primeiro-ministro de "praga" e de "cancro". O governo de Direita israelita parece ter esquecido os insultos semelhantes dirigidos aos judeus que precederam o Holocausto.
«JN» de 26 Jun 12

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