25.6.12

Todos, todos, todos por onze

Por Alberto Gonçalves
(...) EM QUALQUER dos casos, alguém devia explicar ao sr. Paulo Bento que os compatriotas dele são livres de apoiar a selecção portuguesa, a selecção checa ou a selecção das ilhas Faroé. Para espanto do sr. Paulo Bento, os portugueses são até livres de criticar a selecção portuguesa, de não apoiar selecção nenhuma, de querer que o campeonato da Europa em futebol se lixe e, pasme-se, de nem saber que decorre um campeonato da Europa em futebol. É verdade que o clima de histeria geral torna a última hipótese quase impossível, mas transformar as restantes hipóteses numa blasfémia ou num acto de traição é um nadinha excessivo. Sem grandes esperanças de que o consigam, convinha que os senhores da bola aprendessem o seguinte: na exacta medida em que não estão obrigados a apaixonar-se por repartições das Finanças, juntas de freguesia ou a embaixada em Camberra, os cidadãos não estão obrigados à vassalagem da selecção.
Em contrapartida, e a menos que a Federação do ramo abdique do absurdo estatuto de utilidade pública (?) de que dispõe, a selecção está obrigada a respeitar os cidadãos, quer estes entrem em combustão instantânea depois de um golo de Cristiano Ronaldo, quer dediquem a Cristiano Ronaldo a maior das indiferenças. Curiosamente, ou nem por isso, a selecção que se julga de todos os portugueses obriga os portugueses todos a aturar os estados de alma dos seus protagonistas, os quais, a fim de acentuar a birra, decretaram um blackout ("apagão" em inglês; voto de silêncio em futebolês). E se Deus Nosso Senhor é testemunha de que agradeço a mudez da rapaziada, o bom senso agradeceria ainda mais que uma entidade responsável, se milagrosamente existisse, mandasse levantar semelhante circo. (...)
«DN» de 24 Jun 12
Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Ora, muito obrigado a Alberto Gonçalves.
Eu gostaria de poder assinar este texto. Na impossibilidade fica este comentário.
Com o desejo de que o circo acabe depressa. Nem sei para que há-de ele continuar, pois se há muito não há dúvidas sobre quem é (ou são) o(s) melhor(es) do mundo...
Pelo menos no défice das contas públicas, ou lá como se chama.

25 de junho de 2012 às 23:07  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Apesar de A. G. ser "autor convidado" do 'Sorumbático' há muito tempo, foram raros os seus textos aqui afixados.
Este, no entanto, não podia faltar, pois diz o que ninguém tem coragem de dizer (além de que é exactamente o que eu penso).

Eu gosto muito de futebol (e até fui praticante, quando a idade e o físico o permitiam), mas o que está em causa, aqui, é outra coisa:

Quem é que os semi(?)-analfabetos que gravitam em torno da 'selecção' pensam que são - para pretenderem dar-nos lições de patriotismo?!

E que direito tem essa gentinha para decidir que temos a obrigação de viver os seus dramas pessoais?

25 de junho de 2012 às 23:24  

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