Esperem pelo outro resgatado e vão ver
ONTEM, de cada vez que havia golo alemão, as câmaras apontavam para uma
modesta dona de casa, daquelas que em Salónica ou na Beira Interior
ainda vestem o mesmo casaquito de antes da crise (e já lá vão três
anos). Golo, e ela saltava da cadeira e erguia os dois braços acima da
cabeça como quem agarra o varão superior da Carris ou da Ethel,
autocarros de Atenas. Como o salto e o pendurar-se no varão se repetiu
por quatro golos, pudemos reconhecer a mulher: era Angela Merkel. Clara
operação de propaganda, para demonstrar aos gastadores povos resgatados
que uma chanceler alemã anda de transportes públicos e mal vestida...
Mas, como todas as propagandas, podendo ter efeitos contrários quando
desmontada. Desde logo, para quem pretende ser poupado, o desperdiçar de
golos: Portugal, acusado de gastar mais do que produz, produziu a mesma
ida para a meia-final conseguida ontem pela Alemanha, gastando um só
golo. Depois, no estádio, Merkel estava lá só para o forrobodó tão
filmado. E o que fazia, no mesmo lugar, o seu homólogo grego? Leiam a
ficha do jogo: o primeiro golo grego foi marcado por... Samaras. Quer
dizer, o primeiro-ministro grego não só precisa de ter um segundo
emprego como, neste, produz. Já para não falar no contraste que fazem as
fartas carnes da tal senhora do varão com a notícia também ontem
conhecida de o ministro das Finanças grego, Vasilis Rapanos, ter
desmaiado, talvez de larica. Disto não quer saber o Bundesbank.
«DN» de 23 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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