«Dito & Feito»
Por José António Lima
FRANCISCO Louçã, que esteve em Atenas no comício de encerramento da
campanha eleitoral do Syriza, coligação da esquerda radical grega e
partido-irmão do Bloco de Esquerda, mostrara-se disponível para
colaborar na elaboração do programa económico do Governo que Alexis
Tsipras e o Syriza pensavam ir formar e liderar.
Mas as contas saíram
furadas, o Syriza perdeu as eleições e Louçã viu-se impedido de dar a
sua mãozinha ao novo Governo que prometia abalar a Grécia e o resto da
Europa.
Ainda assim, o líder do BE viu nos resultados das eleições
gregas «um fortíssimo sinal» para a esquerda, para Portugal e, em
particular, para o PS. Louçã adverte mesmo, em tom ameaçador: «António
José Seguro devia olhar para Evangelos Venizelos, líder do PASOK, e
perceber que continuar a apoiar a política da troika é destruir o país»,
além de aniquilar o partido, pois o PASOK «era um partido de maioria
absoluta e agora pouco ultrapassa os 12%». Enquanto o radical Syriza,
sublinha o líder do BE, «tinha pouco mais de 4% de votos há dois anos e é
agora a segunda força mais votada».
Louçã poderia ter feito a
leitura inversa. A de que estas eleições extremadas na Grécia, após o
impasse do acto eleitoral de 8 de Maio, foram um epifenómeno radical – à
esquerda e à direita – dificilmente repetível noutro país da Europa. E
até na própria Grécia. E de que se podem tirar ilações contrárias das
eleições portuguesas de há um ano. Já com a troika em Portugal e um
memorando apoiado por PS, PSD e CDS, estes três partidos obtiveram nas
eleições uma clara e esmagadora maioria de 78,4% dos votos. Enquanto o
Bloco de Esquerda, já com troika, caía de 9,8% para 5,2% e de 16 para 8
deputados.
Louçã esqueceu-se, por outro lado, de ameaçar Jerónimo
de Sousa com uma advertência idêntica à que lançou a Seguro. E os
comunistas gregos do KKE até perderam para o Syriza mais votos e
deputados (menos 14, de Maio para Junho) do que os socialistas do PASOK
(menos 8). O esquecimento terá sido efeito da moção de censura do PCP,
que assim se antecipou ao radicalismo do BE e de Louçã?
«SOL»Etiquetas: autor convidado, JAL
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