Dallas no Eliseu
A FRASE francesa "cherchez la femme", procurem a mulher, é para resolução
de mistérios policiais ou enredo de teatro de boulevard. As questões de
saias, na tradição francesa, raramente entram no noticiário político. A
filha de relação extraconjugal de Miterrand tratou-se com discrição e
Strauss-Kahn só foi escândalo porque importado de quarto nova-iorquino.
Mas receio que esteja em vias de extinção esse bom costume dos jornais
franceses em ignorar os lençóis dos seus políticos.
Em 1992, a ministra
francesa Ségolène Royal, mulher do ainda apagado homem do aparelho do PS
François Hollande, mediatizou o nascimento do seu quarto filho, chamou
as televisões à maternidade e, com o bebé, fez capa da revista Paris-Match. Quem assinou este último artigo foi a jornalista Valérie
Trierweiler.
Vinte anos depois, Ségolène nem deputada é, perdeu o lugar,
há dias, nas legislativas; e Valérie é a primeira dama, mulher do
Presidente Hollande. Esta troca de posições seria tratada com a
naturalidade dos divórcios nas sociedades modernas, não fosse o gosto
recente das protagonistas em atiçarem a atenção do público. Na tal
eleição em que Ségolène perdeu o lugar de deputada, Valérie fez um apelo
pelo Twitter para se votar no adversário da ex-mulher do seu
companheiro. Depois disso, Ségolène acusa Valérie de lhe ter dado cabo
da família e da carreira.
Os jornais não são de ferro e vão acabar por
se excitar com a telenovela.
«DN» de 24 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home