24.6.12

Dallas no Eliseu

Por Ferreira Fernandes
A FRASE  francesa "cherchez la femme", procurem a mulher, é para resolução de mistérios policiais ou enredo de teatro de boulevard. As questões de saias, na tradição francesa, raramente entram no noticiário político. A filha de relação extraconjugal de Miterrand tratou-se com discrição e Strauss-Kahn só foi escândalo porque importado de quarto nova-iorquino. Mas receio que esteja em vias de extinção esse bom costume dos jornais franceses em ignorar os lençóis dos seus políticos. 
Em 1992, a ministra francesa Ségolène Royal, mulher do ainda apagado homem do aparelho do PS François Hollande, mediatizou o nascimento do seu quarto filho, chamou as televisões à maternidade e, com o bebé, fez capa da revista Paris-Match. Quem assinou este último artigo foi a jornalista Valérie Trierweiler. 
Vinte anos depois, Ségolène nem deputada é, perdeu o lugar, há dias, nas legislativas; e Valérie é a primeira dama, mulher do Presidente Hollande. Esta troca de posições seria tratada com a naturalidade dos divórcios nas sociedades modernas, não fosse o gosto recente das protagonistas em atiçarem a atenção do público. Na tal eleição em que Ségolène perdeu o lugar de deputada, Valérie fez um apelo pelo Twitter para se votar no adversário da ex-mulher do seu companheiro. Depois disso, Ségolène acusa Valérie de lhe ter dado cabo da família e da carreira. 
Os jornais não são de ferro e vão acabar por se excitar com a telenovela. 
«DN» de 24 Jun 12

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