25.6.12

Queremos a vossa soberania

Por Manuel António Pina  
HÁ 25 anos, pouco depois de Portugal ter aderido à então CEE, eu teria aplaudido as palavras do ministro alemão das Finanças em entrevista a "Der Spiegel" no sentido da necessidade de "mais Europa". Lera alguns dos chamados "pais fundadores" e acreditava que a já mais ou menos evidente corrupção dos valores que haviam presidido, em plena Guerra Fria, à utopia dos "Estados Unidos da Europa" fossem apenas conjunturais. Já então os membros da Comissão raramente honravam as funções que lhes atribuíam os Tratados e quase sempre agiam, menos ainda do que como representantes de interesses nacionais, como meros agentes dos partidos que, nos governos de cada país, os designavam. Com a transformação da CEE em União Europeia (e com o desmoronamento, a Leste, do "inimigo comum"), a situação piorou e, hoje, a Comissão perdeu toda e qualquer autonomia em relação ao Conselho, com as próprias cimeiras reduzidas a encontros bilaterais entre a Alemanha e a França onde tudo é decidido.
Em tal contexto, "mais Europa" e mais transferências de "competências para Bruxelas em domínios políticos importantes, sem que cada Estado nacional possa bloquear decisões" defendidas, depois Merkel, também por Schäuble, significaria a transferência do que ainda resta das soberanias nacionais para Berlim (e, subalternamente, para Paris) através do mero entreposto que Bruxelas actualmente é.
«JN» de 25 Jun 12

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Pois, os partidos capturaram a democracia, pelo menos a nossa, em vez de serem agentes promotores dela. Instalou-se o partidismo, em detrimento da cidadania.
Partidos? Sim, claro.
Mas primeiro que eles, e antes deles, os cidadãos.
Ora, os diretórios dos partidos impedem os cidadãos de se candidatarem a deputados e de proporem representantes seus para essa função.
Em suma: a essência da democracia, traduzida pela própria etimologia da palavra, está pervertida.
Quem disse que é preciso responsabilizar os cidadãos, quando o poder legislativo se resume a uma opção entre meia dúzia de listas, cada uma delas com a típica meia dúzia de indivíduos escolhidos pelos chefes partidários? Que raio de iluminação lhes foi dada para decidirem pelas pessoas?
Eu não me revejo em deputados eternos, normalmente sofríveis, que não pude escolher.
Honra, no entanto, àquelas duas-três dúzias que, em 250 (tantos!) são dignos do nome. Mas até (ou principalmente) nesses me espanta que não sintam incómodo com a sua posição...

25 de junho de 2012 às 22:51  

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