Queremos a vossa soberania
Por Manuel António Pina
HÁ 25 anos, pouco depois de Portugal ter aderido à então CEE, eu teria
aplaudido as palavras do ministro alemão das Finanças em entrevista a
"Der Spiegel" no sentido da necessidade de "mais Europa". Lera alguns
dos chamados "pais fundadores" e acreditava que a já mais ou menos
evidente corrupção dos valores que haviam presidido, em plena Guerra
Fria, à utopia dos "Estados Unidos da Europa" fossem apenas
conjunturais.
Já então os membros da Comissão raramente honravam
as funções que lhes atribuíam os Tratados e quase sempre agiam, menos
ainda do que como representantes de interesses nacionais, como meros
agentes dos partidos que, nos governos de cada país, os designavam. Com a
transformação da CEE em União Europeia (e com o desmoronamento, a
Leste, do "inimigo comum"), a situação piorou e, hoje, a Comissão perdeu
toda e qualquer autonomia em relação ao Conselho, com as próprias
cimeiras reduzidas a encontros bilaterais entre a Alemanha e a França
onde tudo é decidido.
Em tal contexto, "mais Europa" e mais
transferências de "competências para Bruxelas em domínios políticos
importantes, sem que cada Estado nacional possa bloquear decisões"
defendidas, depois Merkel, também por Schäuble, significaria a
transferência do que ainda resta das soberanias nacionais para Berlim
(e, subalternamente, para Paris) através do mero entreposto que Bruxelas
actualmente é.
«JN» de 25 Jun 12Etiquetas: MAP
1 Comments:
Pois, os partidos capturaram a democracia, pelo menos a nossa, em vez de serem agentes promotores dela. Instalou-se o partidismo, em detrimento da cidadania.
Partidos? Sim, claro.
Mas primeiro que eles, e antes deles, os cidadãos.
Ora, os diretórios dos partidos impedem os cidadãos de se candidatarem a deputados e de proporem representantes seus para essa função.
Em suma: a essência da democracia, traduzida pela própria etimologia da palavra, está pervertida.
Quem disse que é preciso responsabilizar os cidadãos, quando o poder legislativo se resume a uma opção entre meia dúzia de listas, cada uma delas com a típica meia dúzia de indivíduos escolhidos pelos chefes partidários? Que raio de iluminação lhes foi dada para decidirem pelas pessoas?
Eu não me revejo em deputados eternos, normalmente sofríveis, que não pude escolher.
Honra, no entanto, àquelas duas-três dúzias que, em 250 (tantos!) são dignos do nome. Mas até (ou principalmente) nesses me espanta que não sintam incómodo com a sua posição...
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