Respeito pelo adversário
O
PÉ ANTE PÉ, o tique-taque que se diz barcelonês, afinal bebe nas
palavras do poeta andaluz António Machado: "Caminante, no hay camino, se
hace camino al andar." Uma tolice no futebol: há caminho, sim,
centrando para a grande área (como o Nani já fez 19 vezes, contra as 20
de toda a equipa espanhola). E, depois, como disse um dia Cristiano
Ronaldo ao Queiroz: "Assim, Carlos, 'al andar', não vamos lá."
Não é que
eu não goste do tique-taque, até gosto, uma renda de bilros fica sempre
bem numa almofada. Sobre relva, ainda por cima pisada por um Pepe, é
que destoa.
Também acho o Iniesta um artista mas, lá está, ele era muito
melhor quando cantava nos Três Tenores, com o Plácido e o outro que já
morreu. Aqui a música é outra, e Iniesta, que até é o espanhol mais
rematador à baliza, 15 vezes, fica-se por quase metade dos remates de
Cristiano, 29. E, atenção, quando o português atira à baliza às vezes é
literal, ouve-se a madeira (para o Carreras de calções entender: tipo
abertura da ópera Siegfried, de Wagner, quando o nibelungo está a afiar a
espada).
Espanha diz-se campeã da posse de bola, 61 por cento
(Portugal, só 46). Mas, como qualquer garoto de rua sabe, "posse de
bola" não quer dizer nada, a bola costuma pertencer ao jogador mais
mariquinhas e sem jeito.
Enfim, este campeonato parece tão martelado
como a banca espanhola: para treinar para a final, a Alemanha joga com
uma equipa a sério, e a nós saíram-nos estes.
«DN» de 27 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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