27.6.12

Respeito pelo adversário

Por Ferreira Fernandes
O PÉ ANTE PÉ, o tique-taque que se diz barcelonês, afinal bebe nas palavras do poeta andaluz António Machado: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Uma tolice no futebol: há caminho, sim, centrando para a grande área (como o Nani já fez 19 vezes, contra as 20 de toda a equipa espanhola). E, depois, como disse um dia Cristiano Ronaldo ao Queiroz: "Assim, Carlos, 'al andar', não vamos lá." 
Não é que eu não goste do tique-taque, até gosto, uma renda de bilros fica sempre bem numa almofada. Sobre relva, ainda por cima pisada por um Pepe, é que destoa. 
Também acho o Iniesta um artista mas, lá está, ele era muito melhor quando cantava nos Três Tenores, com o Plácido e o outro que já morreu. Aqui a música é outra, e Iniesta, que até é o espanhol mais rematador à baliza, 15 vezes, fica-se por quase metade dos remates de Cristiano, 29. E, atenção, quando o português atira à baliza às vezes é literal, ouve-se a madeira (para o Carreras de calções entender: tipo abertura da ópera Siegfried, de Wagner, quando o nibelungo está a afiar a espada). 
Espanha diz-se campeã da posse de bola, 61 por cento (Portugal, só 46). Mas, como qualquer garoto de rua sabe, "posse de bola" não quer dizer nada, a bola costuma pertencer ao jogador mais mariquinhas e sem jeito. 
Enfim, este campeonato parece tão martelado como a banca espanhola: para treinar para a final, a Alemanha joga com uma equipa a sério, e a nós saíram-nos estes. 
«DN» de 27 Jun 12

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