28.6.12

Filosoficamente até ganhámos

Por Ferreira Fernandes
QUANDO se soube que os penáltis eram no lado Sul, este explodiu em alegria. Futebol é emoção e quem é melhor servido tem a maior emoção. 
E já que estou com a mão na massa da palavra, lembro que emoção é, pela sua raiz, movimento, ato de deslocar... 
Ontem Portugal começou por ganhar uma tese: deu cabo, em 90 minutos, do tique-taque, languidez de poeta romântico. Obrigámos o adversário a mudar de filosofia de jogo e Iniesta, para falar do melhor deles, deixou de ser tuberculoso afetado e passou a jogar rasgando como é próprio de quem se ilumina por holofotes e não por Lua cheia.
Claro que isto de ser professor de filosofia e jogador de futebol ao mesmo tempo também cansa, chegámos exaustos ao prolongamento. Aí, os nossos ex-alunos dos 90 minutos precedentes já foram e, pela primeira vez, superiores. Antes dos penáltis, ao contrário do que diziam os locutores, não era 0-0, mas 1-1, nós com uma lição dada e eles com uma lição aprendida. Com os penáltis eu já me estava nas tintas para a docência e só queria era ganhar de que forma fosse. Pelo azar de Piqué em chutar relva, por encandeamento de Casillas, por uma síncope (ligeira) de Ramos, o que quiserem. Não aconteceu. Fiquei tão irritado, tão triste... 
Mas o que é bom com as emoções do futebol é que elas passam e se repetem. Amanhã, eu atravessarei a rua para dizer ao Moutinho e ao Bruno Alves que gosto muito deles. Interesseiro, preciso deles para as minhas emoções. 
«DN» de 28 Jun 12

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