A tartaruga e o eurodeputado
O EURODEPUTADO húngaro Csanad Szegedi teve o seu momento de fama em 2009,
quando apareceu no Parlamento de Estrasburgo com o uniforme de uma
milícia de extrema-direita. Desde aí, lá tirou as botas e a camisa
paramilitares, mas continuou vestido com as suas ideias antissemitas.
Nada demasiado invulgar numa Hungria recentemente abalada pelo escândalo
de um laboratório oficial que passa testes de "pureza racial",
certificando que "não se encontram vestígios de antepassados judeus" aos
cidadãos preocupados com estas coisas. Eis justamente do que não se
pode livrar o nosso eurodeputado Szegedi: acabou de saber, disse-o numa
entrevista esta semana, que a sua avó Magoldna Klein era judia e
sobrevivente do Holocausto... Generoso, o presidente do Jobbik, o
partido que elegeu o infausto eurodeputado, já declarou que ele guardará
o seu lugar.
Mas o percalço ancestral de Szegedi faz lembrar o Nobel
americano James Watson, um dos pais do ADN. Em 2007, numa entrevista no
britânico Sunday Times, disse que os negros eram menos inteligentes.
Meses depois, recorrendo ao ADN descoberto por Watson, o jornal publicou
um teste que revelava que o cientista tinha 16 por cento de genes de
antepassados negros...
Como diria o outro, isto (e isto, aqui, são os
homens) anda tudo ligado. Felizmente para eles, para não acabarem como
George, o Solitário, tartaruga dos Galápagos, que por não saber nem
poder ligar-se acabou com a sua espécie esta semana.
«DN» de 29 Jun 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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