Pedir esmola
Por Antunes
Ferreira
OS NÚMEROS do desemprego aumentam mensalmente. O
Eurostat que não é de modas, cada vez que analisa o mês anterior dá mais um
murro na boca do estômago da União (?) Europeia. Por toda a UE as coisas
continuam a ir mal e as percentagens das pessoas sem trabalho vão crescendo.
Portugal pode-se dizer que não foge à regra. Mas, quando nos dão no pelo somos
nós que sentimos as dores.
Em Abril,
divulgou ontem a autoridade estatística da Bruxelas que, no nosso País, se
atingiram os 15,2% de desempregados, 0,1 mais do que em Março. Mas, para
agravar a situação, os jovens passaram de 35,9% em Março para 36,6 em Abril. Um valor
muitíssimo assustador. Vamos mesmo mal. Pior do que nós, no Euro-grupo apenas a
Espanha e a Grécia. Entretanto, recorde-se, o Instituto Nacional de Estatística
tinha apresentado para o mês que passou uma taxa de 14,9%. Andamos
dessincronizados como diria o Vasco Santana.
De números
estamos conversados – e fartos. Protestam todas as forças que não estão ligadas
ao poder, desde os partidos da oposição até às centrais sindicais. Mas, a que
conduzem? Pelos vistos, protestar cada vez tem menos resultados. As greves, os
cartazes, as declarações mais severas, as críticas mais acirradas têm vindo a
resultar num nada aflitivo. O Poder diz que está «preocupado» e que «nem
consegue dormir». A miséria alastra. Pede-se ciclicamente aos cidadãos que
contribuam para todas as organizações que podem ajudar os que mais sofrem.
O Governo, esse,
parece que não compreende que mais austeridade representa menos consumo e menos
produção o que, naturalmente, se traduz em mais desemprego. Consolidar as
contas orçamentais é uma boa ideia. Porém, à custa de quê e, sobretudo de quem?
A receita fiscal diminui. Quem não aufere rendimentos do trabalho não tem,
obviamente, disponibilidade financeira para pagar às Finanças. O IRS e o IRC
sofrem baixas, naturalmente.
Por outro lado,
não se comprando e não se vendendo, o IVA, mesmo que a 23%, não rende o que o
Executivo esperava e desejava que rendesse. Não é preciso recordar que se trata
de um imposto sobre as transações. Nem só muitos economistas entendem a falácia
do raciocínio de quem diz que nos governa. O povo, sempre o maior sacrificado,
não tem dúvidas: diminuindo os negócios diminuem os impostos deles resultantes.
Não é uma gente
– e não é pouca – que tem carências, que passa fome, que desespera, que renderá
receita para os cofres do Fisco. E a situação de tal modo se degradou que o
espectro aumenta e a esperança vai morrendo quotidianamente. E não se venha
dizer que nós, os Portugueses somos pessimistas; somos, mas as adversidades são
muitas e começam a não ter limites.
O ministro Vítor
Gaspar, o das Finanças, depois de uma reunião com os parceiros sociais, no
âmbito da «Concertação» Social – ainda não se sabe, quando se escrevem estas
linhas, das opiniões destes últimos - veio fazer uma declaração: o Governo decidiu rever em alta as previsões para o
desemprego. Este ano, a taxa deverá chegar aos 15,5% e em 2013 crescerá para
16%. Longe, portanto, das previsões inicialmente feitas.
Mas, o que daí decorrerá
presume-se que será o mons parturiens.
Os valores serão revistos, mas os desempregados não conseguem postos de
trabalho sem uma política de crescimento, porque este é que conduzirá ao
aumento deles através da criação de novos.
O flagelo está em roda livre, o
que significa que está desgovernado. Enquanto o poder financeiro dos mercados,
ou seja das agências de notação e das troicas e, ainda que cada vez menos, dos
bancos, diga que Portugal está a ter resultados melhores do que os esperados, os
desempregados cada vez mais estendem as mãos. Já não para pedir trabalho; para
pedir esmola.
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