1.6.12

Por Manuel António Pina
JÁ EM TEMPOS aqui aludi às duas faces da Alemanha: a luminosa e a monstruosa. A luminosa dos filósofos, dos músicos, dos poetas, da própria língua alemã e das possibilidades que a sua formidável ductilidade oferece ao pensamento criador; a outra, a monstruosa, que se revela em palavras repugnantes como "Shoah", "Endlösung", "Vernichtungslager", Auschwitz, Treblinka, Buchenwald e muitas, muitas mais, umas grossas e assustadoras, outras eufemismos mais ou menos sofisticados. A expressão "Pacto de Redenção", projecto de financiamento dos países "preguiçosos" do Sul (Portugal, Espanha, Itália e Grécia) que a Alemanha parece preferir em alternativa às "eurobonds", pertence àquela última categoria e representa bem a política de pilhagem financeira da Alemanha de Merkel.
"Redenção" tem conotações teológicas, significando algo como "pagamento por um pecado" (é neste sentido que se diz que Cristo ofereceu a sua vida para redimir a humanidade). Segundo o jornal "i", o pagamento que a Alemanha agora exige para a redenção dos pecados dos países devedores do Sul é o penhor do seu ouro e dos seus tesouros nacionais.
Depois das ilhas gregas, os olhos frios e cobiçosos da Alemanha voltam-se para o Pártenon, a Galleria degli Uffizi, o Prado ou os Jerónimos e as toneladas do ouro (que já foi nazi) do Banco de Portugal. Desta vez sem "Panzers", taxas de juro chegam.
«JN» de 1 Jun 12

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