Por Manuel António Pina
JÁ EM TEMPOS aqui aludi às duas faces da Alemanha: a luminosa e a
monstruosa. A luminosa dos filósofos, dos músicos, dos poetas, da
própria língua alemã e das possibilidades que a sua formidável
ductilidade oferece ao pensamento criador; a outra, a monstruosa, que se
revela em palavras repugnantes como "Shoah", "Endlösung",
"Vernichtungslager", Auschwitz, Treblinka, Buchenwald e muitas, muitas
mais, umas grossas e assustadoras, outras eufemismos mais ou menos
sofisticados.
A expressão "Pacto de Redenção", projecto de
financiamento dos países "preguiçosos" do Sul (Portugal, Espanha, Itália
e Grécia) que a Alemanha parece preferir em alternativa às "eurobonds",
pertence àquela última categoria e representa bem a política de
pilhagem financeira da Alemanha de Merkel.
"Redenção" tem
conotações teológicas, significando algo como "pagamento por um pecado"
(é neste sentido que se diz que Cristo ofereceu a sua vida para redimir a
humanidade). Segundo o jornal "i", o pagamento que a Alemanha agora
exige para a redenção dos pecados dos países devedores do Sul é o penhor
do seu ouro e dos seus tesouros nacionais.
Depois das ilhas
gregas, os olhos frios e cobiçosos da Alemanha voltam-se para o
Pártenon, a Galleria degli Uffizi, o Prado ou os Jerónimos e as
toneladas do ouro (que já foi nazi) do Banco de Portugal. Desta vez sem
"Panzers", taxas de juro chegam.
«JN» de 1 Jun 12Etiquetas: MAP
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