31.5.12

Até Obama tropeça em palavras

Por Ferreira Fernandes
É FALSO que Jan Karski tenha visto antes dos outros. Ele viu o que outros viram mas importou-se. 
Karski (1914-2000), polaco, foi homenageado anteontem pelo Presidente Obama por ter sido o homem que avisou os Aliados sobre o Holocausto. Católico, membro da resistência polaca contra a ocupação nazi, em 1942 ele visitou clandestinamente o gueto judeu de Varsóvia e um campo de trânsito para Belzec, o primeiro campo de extermínio nazi. Enviado a Londres pela resistência, o testemunho de Jan Karski é o primeiro, detalhado, sobre a intenção nazi da "solução final." Em meados de 1943, ele encontra-se com o presidente americano Roosevelt. Uma frase de Felix Frankfurter, jurista judeu e conselheiro de Roosevelt, define o muro que o polaco encontrou: "Eu não digo que Karski esteja a mentir, eu digo que não posso acreditar." Hoje, acredita-se, não é? Daí a homenagem póstuma de Obama. Mas este disse, no seu discurso, que Karski "visitou um campo da morte polaco". A referência "polaco" era geográfica, não do símbolo de uma nação. Porém, desde ontem há um levantamento na Polónia contra Obama, e os polacos têm razão: o campo era nazi. 
Houve polacos que fecharam os olhos a Auschwitz, Treblinka e Belzec, mas também houve justos como Jan Karski. Obama, o das palavras de encantar, deveria saber também que há palavras que não podem ser substituídas por outras. Um campo nazi é um campo nazi e nada é igual. 
«DN» de 31 Mai 12

Etiquetas: ,