Entaipe-se a realidade
Por Manuel António Pina
APÓS um ano de empobrecimento do país com medidas recessivas de
"austeridade", de destruição da economia, das classes médias e do Estado
social, o resultado está à vista: o défice, nos três primeiros meses do
ano, aumentou 4,8% em relação a igual período do ano anterior,
atingindo os 7,9% do PIB, muito acima dos 4,5% que o Governo prometeu
aos "mercados" no final do ano.
As receitas fiscais que, segundo a convicção orçamental do
Governo, iriam crescer 2,9%, desceram até Maio 3,5%, apesar dos brutais
aumentos dos impostos que o PSD, em campanha eleitoral, tinha garantido
que não aumentaria. E, do lado da despesa, as "gorduras", "pneus" e
"celulite" dessa "zona de conforto" de tudo quanto é "boy" que são as
empresas públicas não só não diminuíram como, em vez disso, aumentaram
89,4%.
Vítor Gaspar, que anunciou que 2012 seria o "ano da
viragem", já reconhece que as metas do défice estão, apesar dos
dramáticos custos sociais impostos ao país, "mais longe". Entretanto, os
desempregados já são da ordem de um milhão, as falências sucedem-se ao
ritmo de 30 por dia e 70 mil portugueses são forçados a emigrar todos os
anos.
Como aconteceu com a subida em flecha do desemprego, o
Governo está perplexo: segundo a Bíblia neoliberal, nada disto devia
estar a acontecer. Lamentavelmente, a realidade não lê pela Bíblia do
Governo. Fosse no Porto e Rui Rio já teria entaipado a realidade.
«JN» de 2 Jul 12Etiquetas: MAP
2 Comments:
Sepulte-se (a realidade), em funda e fria terra.
E a nós com ela. Mortos que estamos.
A procissão ainda vai no adro. A crise ainda não chegou a Portugal, nem as medidas de austeridade.
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