O deus mercado e os xerifes privados
HÁ DIAS, o Conselho Nacional de Segurança revelou que o número de polícias
(da GNR à Polícia Marítima), 51 mil homens, fora ultrapassado pelos
seguranças privados, 58 mil. A notícia deixou em êxtase a turma do "um
dia, o deus mercado esmaga o diabo estatal." Se até naquilo que foi a
primeira justificação do Estado, a segurança dos cidadãos, já os
privados conseguem melhor...
Em contramão, Paul Krugman, na mesma
altura, citava uma série de reportagens do New York Times sobre o
"inferno" das prisões privadas no estado de Nova Jérsia, construídas
pela "fé dos conservadores na magia do mercado". Krugman (e o NYT) sendo
esquerdistas, é justo citar The Economist, a Bíblia da tal turma, que
também por esses dias (edição 16 de junho) escrevia sobre as prisões
privadas do estado da Luisiana.
Na década de 70, os iluminados do
mercado decretaram que a solução era privatizar as prisões: hoje, na
Luisana, 52 por cento dos presos estão nesse tipo de cárcere, dez vezes a
média nacional dos EUA. Balanço do Economist: com as subvenções
estatais (24,39 dólares por preso/dia), os xerifes privados aumentam-se
os ordenados e cortam na comida dos presos.
Ironia suplementar, nas
prisões estatais, com condenados a penas mais pesadas, há programas de
reinserção; nas privadas, onde só há presos de menos de dez anos de
sentença, não há reabilitação. Claro, preso solto que volta é bem-vindo,
é fonte de rendimento. E é The Economist que diz.
«DN» de 3 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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