3.7.12

O deus mercado e os xerifes privados

Por Ferreira Fernandes
HÁ DIAS, o Conselho Nacional de Segurança revelou que o número de polícias (da GNR à Polícia Marítima), 51 mil homens, fora ultrapassado pelos seguranças privados, 58 mil. A notícia deixou em êxtase a turma do "um dia, o deus mercado esmaga o diabo estatal." Se até naquilo que foi a primeira justificação do Estado, a segurança dos cidadãos, já os privados conseguem melhor... 
Em contramão, Paul Krugman, na mesma altura, citava uma série de reportagens do New York Times sobre o "inferno" das prisões privadas no estado de Nova Jérsia, construídas pela "fé dos conservadores na magia do mercado". Krugman (e o NYT) sendo esquerdistas, é justo citar The Economist, a Bíblia da tal turma, que também por esses dias (edição 16 de junho) escrevia sobre as prisões privadas do estado da Luisiana. 
Na década de 70, os iluminados do mercado decretaram que a solução era privatizar as prisões: hoje, na Luisana, 52 por cento dos presos estão nesse tipo de cárcere, dez vezes a média nacional dos EUA. Balanço do Economist: com as subvenções estatais (24,39 dólares por preso/dia), os xerifes privados aumentam-se os ordenados e cortam na comida dos presos. 
Ironia suplementar, nas prisões estatais, com condenados a penas mais pesadas, há programas de reinserção; nas privadas, onde só há presos de menos de dez anos de sentença, não há reabilitação. Claro, preso solto que volta é bem-vindo, é fonte de rendimento. E é The Economist que diz.
«DN» de 3 Jul 12

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