19.10.12

O que escrever?

QUANDO me apercebi de que Manuel António Pina escrevia regularmente no Jornal de Notícias, não descansei enquanto não consegui contactá-lo. Já não sei quem foi o amigo comum que me deu o seu e-mail (terá sido a Alice Vieira?) mas o certo é que, assim que o apanhei, corri a escrever-lhe, pedindo-lhe autorização para afixar, aqui no Sorumbático, as suas saborosas e certeiras cinco crónicas semanais.
Qual não foi o meu espanto quando ele, 'na volta do correio', não só me disse que autorizava a transcrição, como ainda que se sentia muito honrado com o convite - já que era um leitor de longa data deste blogue!
Quanto eu teria dado para ouvir isso há mais tempo!
E foi assim que, a partir desse mesmo dia, os seus textos começaram a aparecer aqui, como "autor convidado" - uma referência limitativa que a breve trecho desapareceu; Manuel António Pina, para todos os efeitos, passou a ser um colaborador regular do blogue.
No Verão passado, no entanto, deixei de o ver no JN. Atribuí esse facto às férias, e esperei. Mas o tempo foi-se passando... e nada! Tentei, então, saber se ele se tinha sido afastado do jornal, mas em vão.
Decidi, então (já recentemente), escrever-lhe a perguntar se se passava alguma coisa, e dizendo-lhe (sem falsas lisonjas) que eu e muitos outros leitores/admiradores seus sentíamos a sua falta. Foi nessa altura, pela ausência de resposta (o que, com ele, nunca sucedera), que suspeitei que algo não ia bem. Hoje, ao fim da tarde, tive a pior confirmação possível.
E aqui estou eu, agora, a tentar escrever alguma coisa acerca de alguém que muito admirei mas com quem nunca falei pessoalmente - nem mesmo pelo telefone!
O Sorumbático põe todo o seu espaço à disposição de quem tenha conhecido, melhor do que eu, a pessoa e a obra de Manuel António Pina, para que seja possível que, aqui, fique algo mais do que as palavras de circunstância do costume: "este blogue ficou mais pobre a partir de hoje..."

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5 Comments:

Blogger Carlos Esperança said...

Eu sabia. Conversei com ele há cerca de duas semanas numa livraria de Coimbra onde fui ouvi-lo (Lápis da Memória) e tive a surpresa de saber que era meu leitor. Ele, um notável escritor.

19 de outubro de 2012 às 22:59  
Blogger R. da Cunha said...

Leitor que sou do JN, logo após as "gordas" da 1.ª página, era a coluna do AMP que merecia a minha atenção.

19 de outubro de 2012 às 23:32  
Blogger José Batista said...

É difícil perder as crónicas e a escrita que Manuel António Pina devia continuar a proporcionar-nos.

Esta tarde ouvi Francisco José Viegas dedicar-lhe palavras muito sentidas, ditas a custo, entrecortadas pela comoção e pelas lágrimas. Como não me lembro de há muito ter ouvido. E senti orgulho por um e pelo outro.

Resta-nos tudo o que Manuel António Pina nos deixou. Por mim, preciso de ir à procura da sua obra.

Muito grato. E cheio de admiração.

19 de outubro de 2012 às 23:39  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Clicando nas letras MAP (que aparecem em "Etiquetas", por baixo deste texto), obtêm-se as crónicas que ele publicou no "Sorumbático" - pelo menos, as mais recentes.

20 de outubro de 2012 às 08:39  
Blogger Mg said...

Quantas vezes não pegava no JN só para ler a última página...
E dessas, em quantas não disse que aquilo que lia era exactamente o que eu e muitos pensavam, mas não o conseguíamos reduzir em meia dúzia de parágrafos.
Um Homem bom.
Faz-nos falta gente desta. Agora, ainda mais.

20 de outubro de 2012 às 21:00  

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