13.10.12

Premiar a paz enquanto há

Por Ferreira Fernandes
SENDO noruegueses, dos poucos europeus que não querem saber da União Europeia, os membros do comité do Nobel da Paz foram coerentes. O Nobel da Paz premiando a União Europeia em 2012 é para ser ouvido como a orquestra do Titanic, o importante não é o prémio em si nem a música - é o que se anuncia. 
Se Alfred Nobel, o inventor da dinamite, pôde criar um prémio da paz, é natural que este seja dado a quem estilhaçou um sonho... Em todo o caso, os critérios do comité não cessam de nos surpreender. Às vezes, o júri premeia falcões guerreiros - como o americano Henry Kissinger e o norte-vietnamita Le Duc Tho (ambos em 1973) ou o egípcio Anwar Sadat e o israelita Menachem Begin (1978) - que depois de terem deitado fogo à pradaria são honrados por apagá-lo. Então, era o tipo de prémio ao arrependimento. Agora, o comité decide premiar uma União Europeia no exato momento em que, depois de quase 50 anos meritórios, ela é uma irresponsável indiferente aos fogos que ajudou a atear no Sul do continente. É o tipo de prémio ou lhe damos agora ou ela amanhã já está desconsiderada. 
Em 73 e 78, dava-se o Prémio da Paz a quem recuperava a honra; em 2012, a quem está em vias de a perder. 
Ontem, aconteceu uma espécie de prémio carreira dado no pior momento: foi como ir bater à porta do quarto n.º 2806 do Hotel Sofitel, em Nova Iorque, para entregar, naquele famigerado dia, o prémio de Marido do Ano a Dominique Strauss-Kahn. 
«DN» de 13 Out 12

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