Premiar a paz enquanto há
SENDO
noruegueses, dos poucos europeus que não querem saber da União
Europeia, os membros do comité do Nobel da Paz foram coerentes. O Nobel
da Paz premiando a União Europeia em 2012 é para ser ouvido como a
orquestra do Titanic, o importante não é o prémio em si nem a música - é
o que se anuncia.
Se Alfred Nobel, o inventor da dinamite, pôde criar
um prémio da paz, é natural que este seja dado a quem estilhaçou um
sonho... Em todo o caso, os critérios do comité não cessam de nos
surpreender. Às vezes, o júri premeia falcões guerreiros - como o
americano Henry Kissinger e o norte-vietnamita Le Duc Tho (ambos em
1973) ou o egípcio Anwar Sadat e o israelita Menachem Begin (1978) - que
depois de terem deitado fogo à pradaria são honrados por apagá-lo.
Então, era o tipo de prémio ao arrependimento. Agora, o comité decide
premiar uma União Europeia no exato momento em que, depois de quase 50
anos meritórios, ela é uma irresponsável indiferente aos fogos que
ajudou a atear no Sul do continente. É o tipo de prémio ou lhe damos
agora ou ela amanhã já está desconsiderada.
Em 73 e 78, dava-se o Prémio
da Paz a quem recuperava a honra; em 2012, a quem está em vias de a
perder.
Ontem, aconteceu uma espécie de prémio carreira dado no pior
momento: foi como ir bater à porta do quarto n.º 2806 do Hotel Sofitel,
em Nova Iorque, para entregar, naquele famigerado dia, o prémio de
Marido do Ano a Dominique Strauss-Kahn.
«DN» de 13 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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