2.11.12

Desperdícios

Por Joaquim Letria 
HOUVE um curto período da nossa vida económica que até nos servíamos de imigrantes, gente do leste com educação superior, nuns casos, africanos ilegais, sem papéis, brasileiros às carradas, todos eles desejosos e necessitados de uma vida melhor. 
Mas foi sol de pouca dura, depressa voltámos onde estamos hoje e donde vínhamos ontem, regressando à nossa natureza de País de emigrantes, com mais de quatro milhões de compatriotas nossos espalhados pelo mundo a mandarem remessas com as suas poupanças que ninguém lhes agradece.
No Século XIX, os portugueses emigravam sobretudo para o Brasil. Foi, de resto, a quebra do câmbio da moeda brasileira que muito contribuiu para a bancarrota do Estado português em 1891, tanto era o dinheiro que os nossos patrícios de lá enviavam e que deixou de ter valor. Depois dessa dificuldade, muitas cartas de chamada ajudaram muitos outros portugueses a emigrar para a Venezuela, Angola, Moçambique, África do Sul, Havai e Estados Unidos, e mais onde quer que fosse que um homem se pudesse valer e desenrascar.
Nos anos 60 do século XX empestámos a França e a Alemanha com cerca de dois milhões de portugueses que haveriam de construir as modernas cidades da Europa e trabalhar nas suas fábricas. As portuguesas eram, sobretudo, porteiras e mulheres de limpeza. Mas cá, nesses tempos, a pobreza era tal, que qualquer trabalho lá fora valia a pena, para educar os filhos, viver aceitavelmente e ainda mandar o dinheiro para cá, para construir uma casa de família.
Agora voltámos a exportar portugueses carenciados. A diferença é que juntamente com a mão de obra indiferenciada que sempre mandámos embora, vão também jovens educados que em Portugal não encontram trabalho para as suas qualificações. Gente boa, bem preparada, com habilitações proporcionadas por Portugal, que assim perde o seu valor, transformando-os em mais desperdícios. Esperemos que por pouco tempo, pois Portugal precisa deles e continua um belo sítio para se construir um País.

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2 Comments:

Blogger brites said...

os trabalhadores indiferenciados tb. são boa gente. Sou de esquerda, mas a esquerda é imperfeita como a direita e isso assusta-me!

2 de novembro de 2012 às 10:56  
Blogger José Batista said...

Infelizmente, a nossa "república", na continuação da monarquia, não tem de que se orgulhar. Após 1910, bastaram(-lhe) dúzia e meia de anos para mergulhar o país numa longa noite negra e pesada, cheia de vileza, miséria e fome. Após o 25 de Abril de 74 - dia inicial inteiro e limpo - nem a fartura dos dinheiros da Europa conseguiu multiplicar por três aquela dúzia e meia de anos, antes de nos depararmos (novamente) com um país falido, desemprego galopante e a miséria e a fome em perspetiva. Fora o que poderá vir a seguir...
Eu não sou monárquico. Mas a nossa república parece ser, ela própria, intrinsecamente, um mau aproveitamento e um desperdício permanentes.
De que muito bem se servem, em proveito próprio, os seus filhos diletos, que batem palmas uns aos outros e se condecoram ao "quilo"...
Uns pândegos.

Que podemos nós fazer?

2 de novembro de 2012 às 15:39  

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