Ventos, casamentos, negócios e assim
NÃO sei se é verdade, como se diz, que os povos felizes não têm
história, mas posso garantir-vos que os povos endividados não veem mais
longe que o nariz. Daí que assoberbados com a gravíssima taxa de IVA
para os restaurantes vamos passar uma semana sem ligar ao que
provavelmente nos vai marcar mais do que o fecho de algumas boas tascas.
Daqui a 50 anos, já O Cantinho do Toino, em Freamunde, voltou a abrir,
mas, por causa do próximo domingo, já o país ao lado terá o mapa
irreconhecível.
A 25 de novembro, os catalães vão às urnas e devem dar a
maioria clara aos independentistas. Artur Mas, o atual presidente
regional, e o seu partido CiU vão voltar a ser os mais votados, talvez
não tenham a maioria absoluta, mas conseguem-na para exigir um referendo
independentista. O Parlamento catalão (135 lugares) terá perto de cem
deputados pró-referendo e cerca de 25 contra... A CiU, de direita,
talvez tenha de negociar mais do que pensava com as alas esquerdistas do
independentismo, mas o processo será irreversível.
E o que temos a ver
com isso? Pergunta mal formulada. O que podemos fazer, sim, é nada; a
ver, a estar atentos, muito. Olhem, por estes dias, Madrid, no que julga
ser legítima defesa, pôs-se a lançar calúnias contra os líderes
catalães. Só mostra que a Espanha sabe que vai sair ferida deste
confronto - e isso significa que vamos ter uma incógnita como vizinha. E
com as incógnitas exige-se prudência.
«DN» de 19 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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