A caça ao violador de segredos
Por Ferreira Fernandes
ONTEM pode ter sido um banalíssimo dia de abertura de mais um inquérito. Ou
um importante dia para o Ministério Público e, sobretudo, para o seu
dever com os cidadãos. A PGR Joana Marques Vidal ordenou a um inspetor
do Ministério Público uma auditoria aos inquéritos feitos nos últimos
dois anos aos crimes de violação de justiça. A PGR quer saber como
procederam os autores dos inquéritos passados, que se armaram com redes
de apanhar borboletas e não trouxeram nem uma mariposa para amostra. A
violação do segredo de justiça põe em causa êxito das investigações
criminais, diz a PGR. E está certa. Quem viola gosta de se aureolar com
um contributo cívico e deixa pairar a ideia de que deu a conhecer de
forma indevida uma investigação porque ela não avançaria de outra
forma... Ora décadas de violações do segredo de justiça mostram que isso
não é verdade.
Não são os jornalistas com a sua famigerada
"investigação" que destapam alguma coisa. Eles são meros baldes de lixo
onde se depositam os tais segredos. As violações são feitas de dentro,
pelos que investigam, ou melhor, pelos que não investigam. Esses
divulgam sub-repticiamente ou por interesse venal (que pode ser também
político) ou, a mais das vezes, por incapacidade profissional. Sabendo
que a sua investigação pífia não levaria a nada, violam o segredo para
esconder a sua impotência. Joana Marques Vidal está certa: quem divulga
trai a investigação criminal.
«DN» de 5 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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