«Dito & Feito»
Por José António Lima
AS MEDIDAS avançadas no estudo do FMI só poderão ter surpreendido quem não tenha reflectido minimamente no assunto.
Se
o objectivo é reduzir, de forma permanente, 4 mil milhões de euros na
despesa do Estado e sabendo-se que as pensões e os salários dos
funcionários públicos somam, por si sós, mais de 70% dessa despesa, é
mais do que inevitável ser aí que irão incidir os cortes mais dolorosos.
O estudo não traz boas notícias, mas não há muitas alternativas à
terapêutica do FMI, ainda que ela vá representar, para a maioria dos
portugueses, a descida de mais uns degraus na escala do empobrecimento e
da redução do nível de vida.
Cortar 15% a 20% nas pensões mais
altas, acabar com regimes especiais de pensionistas, aumentar a idade da
reforma, reduzir 70 mil ou 100 mil funcionários públicos (metade dos
quais no sector da Educação), congelar de vez os 13.º e 14.º meses – na
verdade, não se vêem muitas variantes a esta medicação, se a intenção é
mesmo a de cortar 4 mil milhões de euros na despesa anual do Estado.
E
é pena que Seguro e o PS se tenham, de imediato, posto de fora deste
debate. Porque o PS tem larguíssimas culpas na situação em que deixou
cair o país. Porque os portugueses gostariam de saber se Seguro tem
alguma proposta de redução da despesa, séria e concreta, em alternativa à
receita que é sugerida pelo FMI. E se tem coragem política para a
apresentar e assumir.
O estudo do FMI levanta outras questões
políticas. Como a de tornar claro que a tão discutida
constitucionalidade de algumas medidas do Orçamento para 2013 é uma gota
de água, para o Tribunal Constitucional, face a este dilúvio de cortes
que se avizinha...
Falta saber até que ponto o crescendo de
conflitualidade social e política irá permitir, ou inviabilizar logo à
partida, a aplicação de tão violento plano. No que respeita à maioria,
ficou a perceber-se que Passos Coelho, além do défice de coordenação
política do Governo, de novo patente na forma atabalhoada como o estudo
do FMI surgiu , tem cada vez menos mão na coligação e no próprio PSD. A
desastrada intervenção de Carlos Moedas, o distanciamento de Mota Soares
e demais CDS ou as críticas de Carlos Carreiras, entre outros PSD, são a
imagem do desnorte que se vive na coligação. Como alguém diria, um
ciclo vicioso de desnorte. Vicioso e preocupante.
«SOL» de 11 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
2 Comments:
4 mil milhões porquê? Qual a fundamentação do número?
A partir de que valor uma pensão é considerada alta?
A médio e longo prazo será sensato sacrificar a Educação?
Em que medida a dispensa dos funcionários públicos põe em risco os serviços prestados pelo estado?
Estas medidas são mais de carácter ideológico ou económico?
Está-se a defender o interesse de TODOS os portugueses?
Estou como a Helena.
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