O segredo com a boca na botija
Por Ferreira Fernandes
HÁ DEZ ANOS, chegou aos cinemas Relatório Minoritário, filme de Steven
Spielberg. Era ficção científica, prometia para 2054 polícias a punir
crimes antes de eles serem cometidos. A realidade anda mais depressa que
Hollywood e algumas cidades americanas (e a inglesa Kent, a primeira
europeia) já têm o Predpol. Como o seu nome indica (do inglês predictive
police), o Predpol adivinha quando e onde um crime vai acontecer. É um
software que, depois de engolir os dados dos crimes passados, tem uma
fórmula matemática que permite deduzir crimes. Em Los Angeles,
diminuíram um terço dos crimes menos graves e um quinto dos violentos.
O
antropólogo Jeff Brantingham estudou os acasos da mente humana que
levam ao crime e enquadrou esses dados numa fórmula inspirada noutra
para a prevenção de sismos. As polícias que compraram o Predpol
alimentam-no constantemente com os incidentes criminais da sua cidade e
conseguem assim não só um mapa dos pontos quentes mas também os dias e
horas onde é mais comum a prática dos delitos. Resta só mandar para lá
as patrulhas... A revista Time chamou-lhe uma das 50 mais importantes
invenções de 2011.
Eu volto à carga com o assunto da crónica de ontem, e
lembro à PGR a eficácia do Predpol. Joana Marques Vidal acaba de
ordenar uma auditoria aos crimes de violação de segredo de justiça dos
últimos dois anos. Metendo os dados no Predpol, na primavera já se
apanham dealers de segredos com a boca na botija.
«DN» de 6 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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