6.1.13

O segredo com a boca na botija

Por Ferreira Fernandes
HÁ DEZ ANOS, chegou aos cinemas Relatório Minoritário, filme de Steven Spielberg. Era ficção científica, prometia para 2054 polícias a punir crimes antes de eles serem cometidos. A realidade anda mais depressa que Hollywood e algumas cidades americanas (e a inglesa Kent, a primeira europeia) já têm o Predpol. Como o seu nome indica (do inglês predictive police), o Predpol adivinha quando e onde um crime vai acontecer. É um software que, depois de engolir os dados dos crimes passados, tem uma fórmula matemática que permite deduzir crimes. Em Los Angeles, diminuíram um terço dos crimes menos graves e um quinto dos violentos. 
O antropólogo Jeff Brantingham estudou os acasos da mente humana que levam ao crime e enquadrou esses dados numa fórmula inspirada noutra para a prevenção de sismos. As polícias que compraram o Predpol alimentam-no constantemente com os incidentes criminais da sua cidade e conseguem assim não só um mapa dos pontos quentes mas também os dias e horas onde é mais comum a prática dos delitos. Resta só mandar para lá as patrulhas... A revista Time chamou-lhe uma das 50 mais importantes invenções de 2011. 
Eu volto à carga com o assunto da crónica de ontem, e lembro à PGR a eficácia do Predpol. Joana Marques Vidal acaba de ordenar uma auditoria aos crimes de violação de segredo de justiça dos últimos dois anos. Metendo os dados no Predpol, na primavera já se apanham dealers de segredos com a boca na botija. 
«DN» de 6 Jan 13

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