19.11.13

Carta aos rapazes de logo à noite

Por Ferreira Fernandes
Um Mundial no Brasil é quase tão raro como o cometa Halley, que passa por cá de 76 em 76 anos. A Copa brasileira foi em 1950 e só para o ano torna a acontecer. Para um futebolista é probabilidade de uma vez na vida, ponto. Um Mundial no Brasil é um momento sagrado. Ainda hoje se ouve o silêncio no Maracanã, em eco pelo Rio e o Brasil, daquela tarde de 1950, quando o golo do uruguaio Ghiggia matou uma pátria em chuteiras. Um Mundial no Brasil não é uma dessas manhosas competições que traficantes desportivos marcam para o Qatar - é uma epifania, um encontro que se cola à vida de eleitos. É isso, rapazes portugueses de logo à noite, em Solna, Suécia. Ir ou não ao Brasil - decidam se querem ter o que contar aos netos. Nem vos alicio com a hipótese de poderem ser os primeiros futebolistas portugueses a ir a um Mundial no Brasil. Não serão. Já Eddie Sousa e "Clarkie" Sousa, açorianos e operários têxteis de Fall River, Massachusetts, lá estiveram em 1950, alinhando pela vulgar seleção dos EUA. Em Belo Horizonte, eles jogaram contra a Inglaterra, a inventora do futebol. Pela primeira vez esta fazia o favor ao resto do mundo de ir a um Mundial. Três anos antes, o império britânico perdera a joia da coroa, a Índia, mas naquela tarde perdeu um mito mais fundo: a seleção dos Sousa operários deu-lhes 1-0. Como eu vos dizia, um Mundial no Brasil atrai milagres. Rapazes portugueses de logo à noite, quereis perder a oportunidade de viver um?
«DN» de 19 Nov 13

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