26.11.13

Ponham os olhos no chão, portugueses!

Por Ferreira Fernandes
Os provérbios têm um jeito particular para ser reacionários: "Não suba o sapateiro além do chinelo", diz-se. Pois diz-se mal e sem ambição. Se há coisa para a qual Portugal pode falar de cima é quando olha para baixo: os seus sapatos. Ontem, a Assembleia Europeia das PME deu ao calçado português o prémio europeu de capacidade de internacionalização. O concorrente derrotado foi o champanhe francês: com pés assentes na terra ganhámos às bolhinhas de ilusão. 
Todos os dias as estatísticas fornecem-nos dados para os quais olhamos prudentemente com suspeição: querem dizer o quê aquelas ínfimas percentagens que se espera crescermos para o ano? É bom? Ou quer dizer que marcamos passo?... Já os sapatos são um grande salto: em dois anos, escrevia ontem o enviado do Público ao tal prémio, o sector do calçado português cresceu 21 por cento e o preço médio cresceu 25 por cento. Vendemos muito mais e fazemo-nos pagar muito melhor. Em qualidade, no mundo, só perdemos para Itália. E não estamos a falar de um nicho de mercado, um produto para iniciados. Uma pessoa pode mudar de partido e até de clube, mas, depois de adulto, fica firme sobre os seus 41 (ou 39, ou 43...) que lhe ditaram nos pés. Sabemos quanto calçamos melhor do que a data de aniversário do cônjuge. E é esse importantíssimo objeto que sabemos fazer bem e com sucesso numa época em que o resto arrasta os pés. Os jornais que falem desses heróis, patrões e operários.
«DN» de Nov 13

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