Sócrates, O Macho Político
Por Maria Filomena Mónica
AO LER A ENTREVISTA de Clara Ferreira Alves a Sócrates, vieram-me à cabeça três hipóteses: a) o entrevistado estava bêbado; b) o entrevistado imaginava ter futuro político; c) o entrevistado era louco. Não digo como responderia a este teste americano, mas uma coisa é certa: este senhor anda a difundir homílias pagas com o meu dinheiro, obtido através da contribuição audiovisual que, sem a minha autorização, o Estado inclui nas contas da EDP. Alguém reflectiu já na iniquidade de se dar a Sócrates tempo de antena?
Mas vamos à entrevista. Há muito que a chamada «conversa entre homens» me fascina. Ao longo da vida universitária, aconteceu-me estar em reuniões onde apenas se sentavam homens, pelo que tive o privilégio de poder espreitar esse mundo recheado de palavrões machistas. Mais tarde, as escutas feitas pela PJ deram-me acesso a idêntico tipo de linguagem. Nada disto era feito em público: nas reuniões, os machos esqueciam-se de que eu ali estava, ao passo que, nas escutas, quem falava imaginava estar a comunicar apenas com seres igualmente misóginos.
O que surpreende na entrevista de Sócrates – para mais concedida a uma mulher – é o uso de palavras tão ordinárias quanto «filho da mãe», «gajos», «trastes», «pulhas» e «estupor», o termo usado para classificar o Ministro das Finanças alemão. Ao contrário de Rabecaz, de quem Sócrates descende em linha directa, não menciona o femeaço, mas, como aquele, julga-se uma fera. Ao ser forçado a deixar o poder, a ideia de ter de voltar à província apavorou-o. Temia que ali, como um lírio desfolhando-se numa caverna, o seu génio perecesse.
Foi então que gizou um plano. Por que não ir até Paris, onde se matricularia num daqueles cursos, com nomes sonantes, que tinham dado fama à Faculdade de Sciences Po? Por que não passear-se, no Boulevard S. Michel, com um iPad debaixo do braço? Por que não comer croissants, ao lado de turistas americanos, na esplanada do Café Flore? Até já tinha um título, «A Confiança no Mundo», para a tese que tencionava escrever. Sim, porque ele era um optimista, não um covarde como Teixeira dos Santos, que se fora abaixo ao primeiro indício de não haver dinheiro nos cofres do Estado.
Havia contudo um óbice. Para se viver em Paris, era necessário cheta. O rendimento dos andares da mamã e um empréstimo da CGT resolveram o problema. Mesmo sem saber Latim, Grego, Francês ou Alemão, Sócrates tinha a certeza de que Kant o esperava à beira do Sena. Partiu com o espírito cheio de sonhos. Quanto mais se passeava pelos boulevards, mais desprezo sentia pelo país onde nascera. Nem a Presidência da República lhe parecia agora apetecível: «Não sinto nenhuma inclinação para voltar a depender do favor popular». Em vez de se submeter a eleições, o que desejava era continuar a jantar na Brasserie Lippe ao lado de «intelectuais». Antes, não sabia que existiam «vidas assim tão boas». Agora, que o descobrira, hesitava em regressar ao ninho.
«Expresso» Nov 13
Etiquetas: FM
6 Comments:
Aqui para nós, mesmo sem ter lido a entrevista nem ouvir as homilias de tal pessoa, regressada à exemplar tv do estado pela mão do insigne (não doutor) Miguel Relvas, ou com o seu luminoso consentimento, uma vez que era ele que superintendia a "nobre instituição" que, agora, até passou a emitir pornografia, segundo li em Pulido Valente, eu apontava para as três possibilidades em simultâneo: estar (permanentemente) bêbado (pelo menos com a importância que julga ter e que os interessados lhe dão), supôr ter (ainda) futuro político (no que admito possa estar certo) e ser louco, o que dispensará comprovativo. É um machoide emplumado à cata de poleiro. Por mim, ele e outros, bem mereciam as pauladas que Vasco Lourenço terá sugerido para as competências (idênticas às de Sócrates, que se diz engenheiro, não esqueçamos, e agora é "mestre", com certificado internacional) que nos tratam do pêlo, dizendo que nos governam. A mando.
E tristes, nós suportamos, e gememos e... pagamos.
A falta que pode fazer um filho de uma velha munido de um pau de marmeleiro, para tratar com certos marmanjos que já passaram (há muito) o tempo da adolescência.
Peço desculpa, mas não posso evitar.
Vocês destilam fel, talvez inveja, miopia de classe ou defeito de formação.
E quem vos disse que alguém aprecia a pose de gente bem nascida de muitos supostos talentos?
O que fizeram pela pátria?
B.I. é o que se sabe.
Hipótese a) está bêbada (a Mónica).
Este comentário foi removido pelo autor.
O Zé Batista não está bêbado.
É só, tonto.
Olha, ontem ficou-me, no comentário que fiz, um "supor" com chapéu. Erro meu.
E chapéus há muitos, bem escusava eu de, involuntariamente, os acrescentar.
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