A Europa está parva e é geral
Por Ferreira Fernandes
A pergunta, como em todos os referendos bem feitos, vai ao osso: "Deve a Escócia ser um país independente?" Nenhum chantilly
para encher o olho, nenhuma palavra supérflua. Nem mas nem meio mas:
sim ou não? Milhares de anos de misturas de povos como inevitavelmente
aconteceu, porque se passou numa ilha, e pequena ilha, e três séculos de
pátria comum, o Reino Unido da Grã-Bretanha, desde 1707... E agora (dia
18 de setembro), separa-se, como o trigo do joio: sim ou não? Muito
antigas derrotas comuns (por exemplo, na Independência americana) e
vitórias comuns (I e II Guerras Mundiais), um destino imperial feito
junto, descobertas de máquinas e de ideias, literatura, desastres,
sonhos e líderes partilhados. Tudo isso, passado, valores, história,
famílias - inevitável forte identidade - depurado numa dicotomia:
escoceses para um lado, os outros para outro. Um dos defensores do "sim"
à independência, diz-me o jornal The Guardian, declarou que nada
mais une a Inglaterra e a Escócia senão história e família. Senão? Não
me parece coisa pouca. E ouso, eu que estou de fora, falar deste assunto
porque salta-me a superficialidade com que o referendo é tratado. Eu,
português, que por razões ocasionais da minha empresa residisse há três
anos em Edimburgo, apesar de não saber quem são os Stuarts posso votar -
cortar, sim ou não, no destino do Reino Unido -, mas um escocês a
residir em Londres, não. A Europa está parva e é geral.
«DN» de 8 Set 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
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