Uma gatunice é uma gatunice
Por Ferreira Fernandes
O DN, jornal antigo, permite-me embrenhar em páginas amarelecidas e encadernadas (é um prazer o peso de notícias que juntam, sei lá, em 1903, o Nobel de Pierre e Maria Curie, e o elefante Topsy, eletrocutado numa experiência de Edison...) Reparei que há cem anos havia uma rubrica com um título bem apanhado: "Gatunices". Era sobre contos do vigário ou dedos jeitosos em bolsos alheios, por vezes com a foto espantada do gatuno. Ainda não fiz o balanço mas talvez seja possível atravessar uma década (num século que nos deu Alves dos Reis) sem a cara espantada de um banqueiro apanhado em "Gatunices". Mas estou grato ao polícia que apanhou o "mãozinhas" que roubou a viúva, o juiz que o julgou e o jornal que lhe fez a folha pública. Apesar de lamentar, claro, menor sanha com o ministro que enriqueceu com as latas de conservas podres enviadas aos soldados combatentes na Flandres. Em todo o caso, pena ter acabado a rubrica "Gatunices". Olhem, cabia lá a notícia sobre o atual caso Face Oculta. Sei quase nada sobre os intervenientes e a sua culpa mas por aquilo que um polícia mau e um jornalista ainda pior chamam modus operandi, acho que sim, é gatunice. É feio roubar e, ainda mais feio, bens públicos. Ainda bem que gatunos sejam apanhados e condenados. Há por aí uma discussão surda: de um lado, "os gatunos são deles!", e de outro, "nos gatunos deles, que são maiores, não tocam...", eu sei. Mas não entendo. Os gatunos nunca são meus.
«DN» de 7 Set 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
não sei, não me meto, não é meu...
castigar é preciso, mas não é meu.
fiquem à vontade que eu apenas faço As crónicas!
contam, não julgam... um filão!
Enviar um comentário
<< Home