28.12.14

O Calcário rosado do Algarve (*)


Por A. M. Galopim de Carvalho

QUANDO, nos anos 70 do século que passou percorri todo o Algarve em trabalhos de apoio à cartografia geológica, na qualidade de elemento de uma equipa do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, liderada pelo Prof. Carlos Romariz, recordo a existência de um calcário cor-de-rosa, como o que se pode ver e pisar nas calçadas da Avenida dos Descobrimentos e de várias ruas de Lagos. Passaram muitos anos e as minhas preocupações geológicas seguiram outros e bem diferentes caminhos. Guardo, no entanto, a ideia de que se trata de um calcário da base do Jurássico, sobreposto a um complexo vulcano-sedimentar que, por seu turno, assenta sobre os conhecidos “grés de Silves”[1], a pedra vermelha do Triásico de que é feito o belo castelo medieval desta cidade.
Segundo Carlos Costa Almeida, meu distinto ex-aluno e ex-colega, o referido calcário cor-de-rosa pertence à unidade estratigráfica formada por calcários dolomíticos[2] e dolomitos cálcicos[3] que designou por “Calcários e dolomitos de Picavessa”, rochas que o ilustre geólogo suíço, radicado em Portugal, Paul Choffat, em 1887, atribuiu ao andar Sinemuriano (Liásico inferior, com 195 a 200 milhões de anos). Importante no Barrocal algarvio, esta unidade coroa os principais relevos desta região com destaque para a Serra da Picavessa, o Espargal, a Rocha de Messines e a Rocha Amarela.

A cor rosada destes calcários e dolomitos, bem com a dos “grés de Silves”, deve-se à presença de partículas microscópicas de óxido de ferro (hematite) disseminadas nestas rochas, sendo, creio eu, uma herança da rubefacção pelo óxido de ferro que, nesse tempo, caracterizou a imensa área continental onde o nosso território se inseriu.

[1] - Arenito quártzico de cimento argilo-ferruginoso (hematite).
[2] - Rocha sedimentar carbonatada, em que predomina a calcite (carbonato de cálcio) sobre a dolomite (carbonato de cálcio e de magnésio).
[3]- Rocha sedimentar carbonatada, em que predomina a dolomite sobre a calcite.
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(*) Este texto foi propositadamente escrito para a página Cidadania de Lagos

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