Depois de cadeias roubadas...
Por Antunes Ferreira
Por incrível que pareça, aconteceu. Aconteceu mesmo. E de
acordo com a comunicação social tratou-se de uma verdadeira duplicata, uma
reincidência. Parece um mistério – e é. Tentemos descobri-lo, mas como há mais
quem o esteja a fazer deixamo-lo em melhores mãos, mais competentes e sabidas
que não este modesto cronista sem quaisquer pretensões a Rui de Pina, Duarte
Galvão e, claro, muito menos a Fernão Lopes. Resumindo: o que parecia um
mistério – não é. Porque vem quase tudo na cadeia da informação sobre uma outra
cadeia, a de Santa Cruz do Bispo em Matosinhos.
Foi o segundo assalto a uma cadeia na semana que está a
findar. Ontem, pela calada da noite, os ladrões a cadeia em Matosinhos; mas
logo no início destes sete dias (não garanto no domingo, quiçá na
segunda-feira, pois não tive tempo de o averiguar…) osserviços administrativos do estabelecimento
prisional de Leiria tinham sido alvo do mesmo procedimento. É um déjà vu, uma
reprise, o que lhe queira chamar. No cinema acontece ainda que não seja muito
desculpável. Mas em cadeias…
O irónico deste segundo round é que os gatunos devem ser uns
estagiários de aprendizes de auxiliares de praticantes, ou seja larápios sem
categoria, falta-lhes o pedigree, não roubam nem nos distritais, quanto mais na
primeira Liga da roubalheira. E porquê esta classificação? Porque se tivessem
sido profissionais (não maus, no meu entender, porque profissionais têm de ser
bons, o que não aconteceu no episódio em causa) não teriam cometido um lapso
fatal, felizmente apenas para eles próprios.
Em Santa Cruz do Bispo (que raio de nome para uma cadeia… É
obvio que uma cadeia com esse nome ofende um tanto as consciências mais subtis
e menos permissivas para católicos que abundam por aí, mas o Papa Francisco
continua a sua revolução havendo até quem o tenho cognominado o Guevara do
Vaticano. Daí que os protestos contra o onomástico não têm tido grande sucesso…)
Mas ó nome da prisão não é caso único. O cemitério dosPrazeres (Será que os
mortos participam em orgias inconfessáveis?) e o palácio das Necessidades (que
será apenas retretes, mictórios e papel higiénico?) Para Negócios Estrangeiros
é difícil entender que a denominação quer dizer embaixadores, secretários,
adidos e similares, mas há cada uma que cada duas são um par.
Os ratoneiros de Matosinhos são, assim, uma cambada de incompetentes:
das instalações prisionais levaram somente um cofre vazio. Mas, vistas as
coisas por outro ângulo tenho de dizer que uma falsidade como esta não se faz a
larápios e bons chefes de família, ao que me dizem. Aliás para que a
classificação ser completa devia-se mencionar que estavam integrados no sistema
vigente com repúdio do Partido Comunista; Não se faz – enganar uns ratoneiros
honestos é demasiado.
Posto o caso neste pé permito-me perguntar se se terá
verificado o velho ditado “depois de roubado, trancas à porta”? Não posso
acreditar que o episódio, ou melhor a ocorrência, pois trata-se de guardas
ainda que prisionais (maneira politicamente correcta de os denominar
carcereiros) tenha decorrido sem que estes não tenham dado conta da intromissão
dos depenadores? Afinal pergunto: quem guarda os guardas? Questão em meu
entender absolutamente pertinente.
Porém logo alguém saiu à estacada: sempre em guarda, a
Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais veio pôr os pontos nos is. A
patroa explicou que a vigilância (dos presos? Dos guardas?) é feita de forma
descontinuada. No entanto, no melhor pano caia a nódoa. O Sindicato Nacional do
Corpo da Guarda Prisional veio alerta para a falta de guardas. A prisão de
Carnaxide disse o Sindicato, que apenas duas torres de vigilância funcionam com
segurança continuada. Nas outas, tem dias; descontinuada é que vale.
Ora bem, durante uma campanha bi/pré eleitoral (?) o poder,
no caso vertente o (des)Governo de coligação, devia, por decreto, proibir casos
como estes e, mais, mesmo os similares. A populaça podia-se perguntar que país
é este em que os rapinadores assaltam cadeias perfeitamente à vontade? E
acrescenta o Sindicato já referido que "Mais importante do que o que
levaram é o que acabou por acontecer. Falamos de um estabelecimento prisional
que devia ter segurança para dentro e para fora, ou seja, os serviços
prisionais devem estar preocupados em evitar a fuga dos reclusos e impedir a
entrada das pessoas exteriores ao estabelecimento prisional". Bem dito,
bendito seja.
Porém para mim ainda existe uma coisa pior: a Senhora
Ministra da Justiça que nos habituou a abrir a boca por tudo e por nada,
mantem-se, pelo menos até à hora que escrevo esta crónica, impávida e serena de bico calado. O poder não se deve – nem pode – meter o
bedelho em casos destes, peanuts. Nova pergunta: e quem e em quais se meterá?
Ou seja, quem meterá as trancas?
Etiquetas: AF
1 Comments:
Nunca lhe passou pela cabeça que há polícias corruptos e outros que fazem tráfego?
E outros que fazem uma soneca! E porque não dizer, outros que estão de boa fé.Parece que o amigo do alheio já é velho e existe em cada pessoa, depende do valor!
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