30.8.15

Depois de cadeias roubadas...


Por Antunes Ferreira
Por incrível que pareça, aconteceu. Aconteceu mesmo. E de acordo com a comunicação social tratou-se de uma verdadeira duplicata, uma reincidência. Parece um mistério – e é. Tentemos descobri-lo, mas como há mais quem o esteja a fazer deixamo-lo em melhores mãos, mais competentes e sabidas que não este modesto cronista sem quaisquer pretensões a Rui de Pina, Duarte Galvão e, claro, muito menos a Fernão Lopes. Resumindo: o que parecia um mistério – não é. Porque vem quase tudo na cadeia da informação sobre uma outra cadeia, a de Santa Cruz do Bispo em Matosinhos.

Foi o segundo assalto a uma cadeia na semana que está a findar. Ontem, pela calada da noite, os ladrões a cadeia em Matosinhos; mas logo no início destes sete dias (não garanto no domingo, quiçá na segunda-feira, pois não tive tempo de o averiguar…)  osserviços administrativos do estabelecimento prisional de Leiria tinham sido alvo do mesmo procedimento. É um déjà vu, uma reprise, o que lhe queira chamar. No cinema acontece ainda que não seja muito desculpável. Mas em cadeias…

O irónico deste segundo round é que os gatunos devem ser uns estagiários de aprendizes de auxiliares de praticantes, ou seja larápios sem categoria, falta-lhes o pedigree, não roubam nem nos distritais, quanto mais na primeira Liga da roubalheira. E porquê esta classificação? Porque se tivessem sido profissionais (não maus, no meu entender, porque profissionais têm de ser bons, o que não aconteceu no episódio em causa) não teriam cometido um lapso fatal, felizmente apenas para eles próprios.

Em Santa Cruz do Bispo (que raio de nome para uma cadeia… É obvio que uma cadeia com esse nome ofende um tanto as consciências mais subtis e menos permissivas para católicos que abundam por aí, mas o Papa Francisco continua a sua revolução havendo até quem o tenho cognominado o Guevara do Vaticano. Daí que os protestos contra o onomástico não têm tido grande sucesso…) Mas ó nome da prisão não é caso único. O cemitério dosPrazeres (Será que os mortos participam em orgias inconfessáveis?) e o palácio das Necessidades (que será apenas retretes, mictórios e papel higiénico?) Para Negócios Estrangeiros é difícil entender que a denominação quer dizer embaixadores, secretários, adidos e similares, mas há cada uma que cada duas são um par.

Os ratoneiros de Matosinhos são, assim, uma cambada de incompetentes: das instalações prisionais levaram somente um cofre vazio. Mas, vistas as coisas por outro ângulo tenho de dizer que uma falsidade como esta não se faz a larápios e bons chefes de família, ao que me dizem. Aliás para que a classificação ser completa devia-se mencionar que estavam integrados no sistema vigente com repúdio do Partido Comunista; Não se faz – enganar uns ratoneiros honestos é demasiado.

Posto o caso neste pé permito-me perguntar se se terá verificado o velho ditado “depois de roubado, trancas à porta”? Não posso acreditar que o episódio, ou melhor a ocorrência, pois trata-se de guardas ainda que prisionais (maneira politicamente correcta de os denominar carcereiros) tenha decorrido sem que estes não tenham dado conta da intromissão dos depenadores? Afinal pergunto: quem guarda os guardas? Questão em meu entender absolutamente pertinente.

Porém logo alguém saiu à estacada: sempre em guarda, a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais veio pôr os pontos nos is. A patroa explicou que a vigilância (dos presos? Dos guardas?) é feita de forma descontinuada. No entanto, no melhor pano caia a nódoa. O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional veio alerta para a falta de guardas. A prisão de Carnaxide disse o Sindicato, que apenas duas torres de vigilância funcionam com segurança continuada. Nas outas, tem dias; descontinuada é que vale.

Ora bem, durante uma campanha bi/pré eleitoral (?) o poder, no caso vertente o (des)Governo de coligação, devia, por decreto, proibir casos como estes e, mais, mesmo os similares. A populaça podia-se perguntar que país é este em que os rapinadores assaltam cadeias perfeitamente à vontade? E acrescenta o Sindicato já referido que "Mais importante do que o que levaram é o que acabou por acontecer. Falamos de um estabelecimento prisional que devia ter segurança para dentro e para fora, ou seja, os serviços prisionais devem estar preocupados em evitar a fuga dos reclusos e impedir a entrada das pessoas exteriores ao estabelecimento prisional". Bem dito, bendito seja.

Porém para mim ainda existe uma coisa pior: a Senhora Ministra da Justiça que nos habituou a abrir a boca por tudo e por nada, mantem-se, pelo menos até à hora que escrevo esta crónica, impávida e serena de bico calado. O poder não se deve – nem pode – meter o bedelho em casos destes, peanuts. Nova pergunta: e quem e em quais se meterá? Ou seja, quem meterá as trancas?

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1 Comments:

Blogger opjj said...

Nunca lhe passou pela cabeça que há polícias corruptos e outros que fazem tráfego?
E outros que fazem uma soneca! E porque não dizer, outros que estão de boa fé.Parece que o amigo do alheio já é velho e existe em cada pessoa, depende do valor!

4 de setembro de 2015 às 10:32  

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