CIÊNCIA E COMUNICAÇÃO
Por A. M. Galopim de Carvalho
Ao cumprirem as
funções essenciais à sobrevivência, em particular, a procura de recursos alimentares
e de defesa, os nossos mais longínquos antepassados interagiram de muito perto
com o meio físico e, ainda que de forma muito embrionária,
podemos aceitar que se iniciaram nos conhecimentos que, milénios mais tarde,
integraram as diversas disciplinas científicas. Entre os objectos e os
mecanismos que lhes foi dado observar no mundo físico que foi o seu, experimentaram
o que puderam experimentar, estabeleceram relações de causa-efeito, deduziram o
que souberam deduzir, inferiram o que conseguiram inferir e transmitiram aos
descendentes o saber que foram acumulando, servindo-se para tal das linguagens
de que dispunham, nomeadamente o gesto e, mais tarde e progressivamente, a
palavra falada e só muito depois a escrita.
À semelhança da transmissão
destes saberes rudimentares também a ciência é inseparável da comunicação.
Entendida como um conjunto de conhecimentos acerca de parcelas maiores ou
menores do todo universal, obtidos através da observação, da experimentação
e/ou da elaboração mental, a ciência é um edifício do colectivo, cujos
alicerces se perdem nos confins do tempo da humanidade. Edificada pedra sobre
pedra, o seu fio condutor sempre foi e será a comunicação. Sem comunicação, o
conhecimento científico não avança. Morre com quem o cria. Comunicar ou
comungar, do latim, communicare,
significa partilhar com outrem. Comunica-se através da linguagem escrita,
falada ou gestual. Comunicam entre si, e até connosco, muitos dos animais que
conhecemos. A comunicação entre os humanos utiliza sobretudo a palavra falada e
escrita. Quando falada, apoia-se quase sempre no gesto e na expressão
fisionómica e corporal. Comunicam entre pares, ao mais alto patamar de
erudição, os sábios nas academias e os investigadores nos congressos e outras
reuniões científicas. Comunicam entre si professores e alunos. Comunicam,
através dos livros ou dos media, e
aos mais diversos níveis, os poucos divulgadores que se dispõem a fazê-lo.
Quase tudo o que nos rodeia e
de que constantemente nos servimos, ou com o qual nos articulamos diariamente,
resultou das conquistas da ciência e da tecnologia. Os alimentos, os
medicamentos, os transportes e comunicações, os equipamentos mais variados da
indústria, da saúde, da cultura ou do lazer, radicam, em grande parte, nestas
conquistas do génio humano. O conhecimento científico e as tecnologias com ele
relacionados são alguns dos pilares sobre os quais assentam as sociedades
humanas, o progresso social e o bem-estar da humanidade.
O paralelismo entre a produção
científica e o avanço das técnicas de comunicação é, sobretudo nos dias que
correm, uma evidência espectacular. Do texto manuscrito enviado por mar e à
vela, ou por terra, na bolsa de um estafeta a cavalo, ao Morse e ao correio
expresso, ou dos já antiquados telexes
e faxes, ao actualíssimo e-mail e à inesgotável internet, a generalização e o
aperfeiçoamento constante e progressivo dos meios de comunicação de pessoas e
ideias fez crescer exponencialmente o hoje imenso e inabarcável edifício da
ciência. Esperemos que o instantâneo da comunicação, que caracteriza os nossos
dias, possa acautelar muitos dos riscos que os avanços da ciência e da
tecnologia também acarretam. Lembremo-nos da pólvora, da dinamite, da energia
nuclear, da química e da biologia ao dispor de arsenais bélicos, e não
esqueçamos a clonagem, os transgénicos, a nanotecnologia e tudo o mais que já
está aí e, ainda, o que se adivinha, com inevitáveis reflexos, bons ou maus, na
vida dos cidadãos.
Etiquetas: GC
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home