Mourinho o Salvador
Por Antunes Ferreira
Como costumo fazer (quase) sempre alinho à minha frente uma panóplia
de temas que entendo que podem dar comentário. É um procedimento meu, que
entendo ser válido e outros absolutamente não. A possibilidade de opção é para mim
uma das componentes – talvez a mais importante… - da Liberdade e da Democracia,
por isso entendo que os crimes de opinião foram e são um malogrado exemplo das
ditaduras nelas incluindo naturalmente a salazarenta.
Este foi uma decisão que embora já conhecida por muita gente
que não concorda comigo, é inteiramente minha. Como dizia um Senhor chamado
Winston Churchill é melhor ter uma ideia, ainda que não seja muito boa, do que
não ter nenhuma. Não sei se o estadista britânico tenha plagiado Monsieur
Jacques de la Palice, mas aderi absolutamente à sua sentença proferida durante
a II Guerra Mundial. Mas também no outro prato da balança nunca me esqueço da
quadra que foi feita ao militar francês:
Hélas,
La Palice est mort,
Est mort devant Pavie.
Hélas, s'il n'était pas mort,
Il ferait encore envie.
Est mort devant Pavie.
Hélas, s'il n'était pas mort,
Il ferait encore envie.
Foi com esta chacota que começou a grassar a lapalissada…
Pois bem desse alinhamento constavam o debate parlamentar em
que cada quinze dias o Governo vai a São Bento discutir o “estado da Nação”, (uma
herança de Sócrates); o homem que matou em Montemor-o-Velho a tiros de
caçadeira a mãe e os avós e se suicidou; a homenagem de Obama à hecatombe
atómica em Hiroxima; as possíveis sanções de Bruxelas a Portugal; a saga dos
colégios privados; a greve dos estivadores, enfim a estória do vai e vem do
petróleo e mais uns quantos que seria despiciendo apontar.
Rejeitei-os todos, não porque não tivessem óbvia importância
– decisão minha… Por favor ver acima o que escrevi sobre a capacidade
decisória. De resto quem sou eu para ignorar essa enorme importância. Pronto,
rejeitei-os. Porquê? Escolhi um assunto que pela dimensão de que se rodeou,
pelas “cabeçalhos” da informação, por uma atenção mundial (estive quase a
escrever universal): após um folhetim “dramático” José Mourinho assinou pelo
Manchester United.
Este é um exemplo, acho, do poder da globalização, do ultra
milionário negócio do futebol, da alienação dos cidadãos e do poder financeiro.
Porque não haja dúvidas de que quem manda neste triste planeta azul é a finança.
E os 15 milhões de euros anuais que o special
one fazem com que os sujeitos normais se sintam invejosos à enésima
potência. Mou vai salvar o Reino Unido (?) salvando Old Trafford das misérias
de resultados que já custaram as cabeças doutros treinadores desde que se
ausentou Sir Alex Ferguson.
As coisas são o que são, a vida é o que é. E as parangonas também;
vão desaparecendo: é o share, é o que se vende e o público compra. Entre a
Rússia e a Ucrânia continua uma guerra assassina, mas a notícia saiu de moda,
ultrapassada pelos jihadistas ou pelos emigrantes, duas tragédias e duas
impotências da nossa velha Europa. E seguir-se-ão outras questões comandadas
pelo dinheiro…
Por isso escolhi Mourinho e pelo estúpido Mundo que o
idolatra. Pensando bem: o estúpido sou eu.
Etiquetas: AF
1 Comments:
Com a devida vénia e salvando desde já eventual erro, parece-me que a herança dos debates quinzenais foi de Durão Barroso. Aproveitando, parece-me uma prática bastante fastidiosa, uma notável perda de tempo, de resultados nulos. Quanto a mim mais se justificaria que fosse uma prática ajustada ao lançamento trimestral dos resultados estatísticos, pelo INE.
Quanto à opção pelo Mourinho e face ao que apresenta, compreendo-a...
Saúde
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