22.3.18

Marielle Franco

Por C. Barroco Esperança

A mulher teve sempre um quinhão maior de sofrimento, em todas as épocas e nas mais diversas sociedades, só comparável à dimensão dos direitos que lhe foram negados e de que ainda há quem a queira espoliada.
Ser mulher é a circunstância na perpetuação da espécie e um ónus que lhe impõe quem a quer tolhida para a liberdade e para a aventura da igualdade em que homens e mulheres se realizem de acordo com o mérito de cada um/a.
Não há felicidade para quem é escravo nem para quem escraviza. A igualdade plena é a meta civilizacional, onde não cabem tradições patriarcais das tribos da Idade do Bronze.
O papel reservado às mulheres define o grau civilizacional e a maturidade da sociedade, sendo certamente mentecaptos os homens que se julgam superiores e trogloditas os que exercem a violência, frequentemente legal ou socialmente aceite.
É intolerável que religiões, criadas por homens, imponham às mulheres os seus desejos, que atribuam a uma desalmada vontade divina a dor que lhes infligem e lhes arrestem os direitos, mas é criminoso que os Estados o permitam.
Ser mulher é difícil; mulher e pobre, doloroso; mulher, pobre e negra, insuportável; mas ser mulher, pobre, negra e lutadora por valores da liberdade e de direitos humanos, junto de outras mulheres, é o desafio que se paga com a vida, um ato de coragem que alguém se encarrega de interromper à bala.


Marielle Franco, vereadora do Rio de janeiro, socióloga, feminista e lutadora intemerata pela liberdade e pelos direitos humanos foi executada sumariamente depois de sair de uma reunião em que prosseguia a luta.
Acabou crivada de balas, por profissionais, num país onde há corruptos entre políticos e juízes, onde a classe dominante destitui presidentes, sequestra a democracia, prende ou assassina quem a enfrenta. Marielle, mulher e negra, socióloga que ousou pensar o que a elite não queria, morreu na cidade onde as favelas estão sob ocupação militar, numa rua onde assassinos e polícias se fundem na sombria recordação dos esquadrões da morte.
No corpo da mulher assassinada, as balas foram a dor menor de uma vida de mártir que se extinguiu na luta pela emancipação da mulher, isto é, na defesa dos direitos humanos.
A sua causa é a herança que nos deixa, a obrigação que cabe a tod@s assumir.


Ponte Europa / Sorumbático

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3 Comments:

Blogger SLGS said...

Subscrevo, totalmente.
Foi tudo dito, numa prosa sintética mas substancial. Os meus parabéns.

22 de março de 2018 às 16:01  
Blogger José Batista said...

Felicito CBE por este texto. Obrigado.

22 de março de 2018 às 21:07  
Blogger Ilha da lua said...

Um artigo brilhante do CBE ! Infelizmente,ainda vivemos num mundo,onde são precisos mártires,para que graves atentados contra os direitos humanos sejam primeiras páginas dos jornais

22 de março de 2018 às 21:57  

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