Espanha – Pablo Casado, Franco e o PP
Por C. Barroco Esperança
O candidato mais reacionário dos que buscam suceder a Rajoy na liderança do PP é um digno herdeiro de Aznar, pétreo franquista ligado ao Opus Dei, pioneiro da decadência ética que atolou o partido na maior teia de corrupção dos partidos espanhóis, e mecenas da Fundação Franco, com dinheiros do Estado.
Pablo Casado merece ganhar o partido que Rajoy ainda procurou desviar do falangismo. É dissimulado e cínico. Afirma que não gastaria 1 € a exumar Franco, e que as famílias dos cerca de 100 mil desaparecidos em valas comuns, ‘assassinados pela ditadura’ (não usou estas palavras, mas foi a realidade), podem ser reclamados pelos familiares.
A trasladação do genocida Franco, do Vale dos Caídos, é o cumprimento da decisão que foi tomada por unanimidade parlamentar, por mais hipocrisia e vergonha com que o PP a tenha votado. Há aí muitos milhares de vítimas do franquismo em valas comuns, a que foi juntar-se o seu carrasco, com honras de Estado, guarda de honra, orações e missas solenes. Os mortos são indiferentes, mas os vivos que prematuramente os perderam não podem consentir tal infâmia.
A companhia do carrasco não é apenas uma ofensa à democracia, é uma homenagem ao fascismo que se perpetua e glorifica indefinidamente.
Pablo Casado fala da divisão dos espanhóis, como se a justiça pudesse consentir que um algoz permaneça símbolo do país e os crimes esquecidos. Tem a desfaçatez de dizer que “desde 1975 e 1978, qualquer familiar pode procurar os restos dos entes queridos com o apoio total” das autarquias, para os tirar das valas comuns, e acusa o Governo de Pedro Sánchez de “fraturar gravemente a sociedade” criando “questões desnecessárias" como a exumação dos restos do ditador e a ilegalização da sua Fundação. A justiça e a higiene cívica são irrelevantes para o avatar serôdio dos falangistas.
Imagine-se Hitler ou Mussolini a gozarem da mesma glória, ou o pérfido seminarista de Santa Comba a ter guarda de honra nos Jerónimos ou Pétain nos inválidos!
Um franquista nunca deixa de ser fascista, por mais que se dissimule. A Espanha corre o risco de ter no seu partido de direita democrática um líder com o coração na Falange e o pensamento no garrote, uma genuína tradição espanhola iniciada em 1820 e mantida por Franco, só abolida em 7 de julho de 1978, depois da morte do genocida.
Julgar o passado recente é um dever, para evitar a reincidência.
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