O mistério das fardas desaparecidas
Por Joaquim Letria
Ao contrário dos bombeiros, agentes da PSP e militares da GNR, que podem deparar-se-nos nos seus uniformes em plena via pública, os guias espirituais e guardas da nossa paz de espírito mergulharam numa clandestinidade onde, por certo, exercem o seu papel de infiltrados no mundo das trevas de Satanás de onde velam pela nossa sobrevivência no bem.
Juntamente com a nobreza, também desaparecida e só reconhecida em alguns apelidos e títulos ilustres, referências de feitos e tenças de antepassados, lá se foi o clero, abandonando-nos à nossa sorte e apetites de políticos e seitas que não perdoam a ninguém neste princípio de milénio.
Sem clero nem nobreza, resta o povo e essa terá de ser a classe privilegiada, pois de colarinho aberto ou de manga arregaçada não há hoje nobre ou padre que também não reclame com ele se confundir nos hábitos e atitudes.
Essenciais para defenderem a soberania nacional devíamos ter ainda as Forças Armadas, mas também estas vivem acobertadas no anonimato das roupas civis e na cor garrida dos carros que as altas patentes utilizam para fazerem circular as suas pessoas e suas apessoadas famílias.
Tropa a que possamos recorrer desconheço, para além de alguns mancebos que andam a fazer obras em Tancos ou são arrebanhados para uma ou outra guarda de honra em cerimónia onde a brigada do reumático tem de tirar as fardas apertadas da naftalina.
Pelo que me tem sido dado ver, os oficiais militares e os sacerdotes, nossos protectores dos inimigos da Pátria e de Satã, vestem-se e despem-se no serviço, como as coristas e os “travestis”. Lembrei-me de lhes falar disto por causa duma recente viagem a Espanha onde não só dei de caras com um major fardado a rigor, passeando com a família, como também baixei a cabeça a um cura que tinha uma sotaina como há anos não via.
Ignoro se é por modernidade que os padres não querem parecer curas e os oficiais preferem que a gente julgue que são empresários de meia tijela.
Deus me perdoe, mas olhando aquele cura espanhol pensei que deve haver quem ache muito mais erótico ter de desabotoar uma sotaina até aos pés, do que ajudá-los a tirar a camisola de gola alta pela cabeça.
Publicado no Minho Digital
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