Vistas largas roupas curtas
Por Joaquim Letria
Rendo-me com surpresa ao êxito da minha crónica “A Sociologia dos Saltos Altos”. No fim de contas, não tenho por onde estranhar. Os homens gostam que lhes falem de mulheres e de erotismo e as mulheres também, mas além disso apreciam ver como há quem goste de lhes mexer nos seus trapinhos.
Explorando o sucesso, como Clausewitz diria na sua estratégia militar, eis-me a regressar ao tema, ainda que me colocando noutra posição de modo a poder ver a infantaria, cavalaria e artilharia desta tropa que finge não existir mas espreita, disfarçadamente, os avanços dos que ousam intrometer-se nas suas posições de batalha.
Penso que os fantasistas, e são muitos estes militantes dos prazeres secretos, apreciam silenciosamente aqueles utensílios de comodidade ou embelezamento que as mulheres usam junto às suas partes mais íntimas.
O “soutien gorge”, as cuequinhas, os sapatos de salto alto são as três grandes peças do fetichismo masculino que a mulher sabe utilizar a seu favor com inteligência e sensualidade. Há quem considere estes minúsculos instrumentos da comodidade ou elegância femininas objectos de tal arte que, em conhecidos casos extremos, chegam a guindar-se ao posto de troféus de batalha. Mas vamos por partes.
A cuequinha é o grande fetiche. Trapinho de seda, renda ou cetim tem por lugar as profundezas mais íntimas e perfumadas, sendo por isso o epílogo de romances de altanaria, ou o prólogo do que vai na alma duma mulher, podendo converter-se para o macho no mais apetecível prémio, obstáculo último a vencer, o qual se pode tornar numa barreira intransponível se o coração ou o ânimo dela lhe fizer soltar o monossílabo “não”!
Enfim, depois dos sobressaltos da Primavera - Verão sucedem-se os sombrios Outono – Inverno e no anúncio de cada uma destas colecções há sempre o receio de mais trabalho quer em vesti-las mas também em despi-las. E resta ainda o recurso, que intencionalmente deixei de fora, do perfume. O perfume tem um corpo vivo, note-se, é muito mais do que um frasco de duas onças.
Seja como for que as mulheres se apresentem, não as temamos. Dêmos-lhes o seu valor, admiremos a sua inteligência, apreciemos a sua consciência, reconheçamos a sua força, rendamo-nos à sua infinita competência, desfrutemos a sua beleza e aceitemo-las nuas e cruas ou como elas se nos quiserem apresentar.
Publicado no Minho Digital
Etiquetas: JL
2 Comments:
Ora, muitas crónicas assim e havíamos de voltar ao prazer da leitura. Que é coisa que os primatas humanos estão a deixar de sentir. Porque não lêem e porque, quando lêem, o que lêem é desenxabido e, comummente, mal escrito. Parabéns outra vez (na realidade, sempre). E um abraço.
Lido e aprovado.
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