22.12.18

"FELIZ NATAL"

Por A. M. Galopim de Carvalho
É difícil afastar das festividades desta quadra natalícia (convertidas num consumismo desenfreado que, embora compreenda e tenha por inevitável, me desgosta) tanta dor que   grassa por este nosso mundo.
Este flash de  fim de vida, intensamente estampado nesta excelente montagem fotográfica de Jorge Vieira, cala bem no fundo da nossa sensibilidade, não pela sombra do companheiro que partiu, já liberto e descansado das dores do corpo e da alma, mas pela irreversível e imensa solidão de quem ficou.
Tudo dói na crueza desta imagem. É a expressão no rosto da velha senhora, é o seu cabelinho ralo e desalinhado e o seu corpo, que se adivinha ressequido, escondido numa roupa que, por isso, ficou vários números acima. São os sapatos e as meias, de quem não tenciona sair à rua. É aquela mão descarnada e é, ainda, a toalha, grande demais para a pequena mesa a dois, agora dobrada e a dizer que, estendida, serviu uma família inteira que se esfumou. Pelos vincos bem marcados, esta toalha, talvez de linho, que ela própria bordou em tempos de jovem casadoira, a juntar ao enxoval, mostra que acabou de sair de um velho baú, com anos e anos de dobrada e adormecida ao lado de um saquinho de alfazema...

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2 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Parabéns Professor!Nesta época o seu artigo,não podia ser melhor Pels profundidade,pela poesia. Os meus cumprimentos Boas Festas

22 de dezembro de 2018 às 23:51  
Blogger Dulce Oliveira said...

Tão triste Professor! Quer queiramos quer não, a solidão é um bicho que nos espreita escondido algures e nunca sabemos quando ataca. Beijinhos e feliz Ano Novo!

26 de dezembro de 2018 às 17:48  

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