28.11.19

A manifestação das Polícias


Por C. Barroco Esperança

Afirmar o direito dos polícias à manifestação é uma banalidade que só a ignorância dos direitos dos cidadãos, que a Constituição consagra, ou as dúvidas sobre a natureza do nosso regime democrático, permitem.
Já a atitude de virarem costas à AR, o órgão nobre de qualquer democracia, cuja defesa lhes cabe, não sendo criminalmente punível, é civicamente ignóbil. Que virem as costas à sede do PS, partido no poder, compreende-se, mas que o façam contra o Parlamento, é repulsivo e significa que há polícias fascistas que devem ser desmascarados.
O Movimento Zero, agrupamento inorgânico, xenófobo e racista, conseguiu a liderança das reivindicações, com gestos e atitudes simbolicamente fascistas, de que o virar costas à AR foi sintomático. É um caso grave de polícia, a juntar ao gesto da mão que integra a coreografia do movimento extremista internacional ‘White Power’.
Na quinta-feira, 21 de novembro de 2019, foi assustadora a complacência dos polícias e guardas da GNR para com a apoteose que muitos dos seus camaradas dispensaram a um fascista intermitente, agora deputado à AR, permitindo a apropriação da manifestação e a injúria às reivindicações, tornando-as um confronto à legalidade democrática que lhes cabe defender.
Confundir uma reivindicação profissional com o desafio à autoridade democrática é um risco que o regime democrático não pode consentir, e é deplorável a complacência com os manifestantes, que viraram as costas a AR, de partidos que a viram ultrajada.
Por melhores que fossem as intenções de partidos antirracistas no apoio à manifestação dos polícias e militares da GNR, já deviam ter-se demarcado da solidariedade, com um comunicado a condenar a sua condução. O PS e o PSD foram os únicos partidos que não apoiaram a manifestação que coreografou a apoteose do deputado do Chega e foram os únicos que não se enlamearem numa exibição que excedeu a decência democrática e a ética profissional de militares e polícias à paisana.
Não há democracias eternas nem liberdades irreversíveis e os regimes democráticos são vulneráveis ao populismo e às derivas extremistas que emergem no mundo e infiltram as forças policiais e militares de numerosos países, incluindo os da Península Ibérica, de Espanha seguramente e, pelos vistos, de Portugal.
O apoio indiscriminado a qualquer manifestação dá a noção de que todas são justas, e que, independentemente da justiça das reivindicações, todas são possíveis de satisfazer.
Não se conquistam simpatias com solidariedades incondicionais e companhias suspeitas.
Ponte Europa / Sorumbático 

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3 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Infelizmente,estes movimentos inorgânicos, como é o caso do movimento Zero, proliferam em todas as democracias europeias Um fenómeno que deveria requerer a maior atenção dos políticos As forças extremistas estão sempre atentas ao descontentamento das populações Começa a notar-se,que um grande número de pessoas não se sente representada e defendida pelos partidos A política económica e financeira da UE estrangula,os países mais pobres, tendo como resultado uma falta de investimento nos grandes pilares da democracia Tudo isto, é muito preocupante.

28 de novembro de 2019 às 14:16  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Como há dias alguém dizia:
"Os oportunistas existem porque há quem crie as oportunidades":
A abstenção, juntamente com os votos brancos e nulos, mostram claramente que mais de metade dos eleitores não se revêem nos actuais partidos.
É por aí que crescem os movimentos e partidos anti-sistema, o que vai continuar a suceder porque os "do sistema" vivem num mundo paralelo, que não é o do cidadão-comum, com quem não compartilham os problemas.
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Recentemente, depois de passar 6 horas para ser atendido (para pedir a renovação do CC, a que se seguiram mais 3 para o levantar!!), perguntei à senhora do balcão se os políticos (estava a pensar nos autarcas) também iam para essas filas.
A resposta foi curta mas disse tudo:
«Claro que não» - levantou-se, e mais não quis dizer.

29 de novembro de 2019 às 17:32  
Blogger Carlos Esperança said...

CMR:

Quem, como nós, sabe o que foi o fascismo, não pode admitir que se mantenham nas forças policiais agentes que, em vez de defenderem a CRP, como é seu dever, a traem.

Isto nada tem a ver com as suas reivindicações nem com o legítimo direito à manifestação.

A polícia serve para perseguir os marginais e não para os integrar.

Um abraço.

1 de dezembro de 2019 às 18:11  

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