COMO SE FORMA UMA MONTANHA, (numa visão muito esquemática, mas, no essencial, muito clara)
Excerto do livro “O AVÔ E OS NETOS FALAM DE GEOLOGIA”, Âncora Editora, já em 3ª edição (2020). Com ilustração do meu amigo Francisco Bilou.
— Ó avô, – pediu o Domingos. – Eu ainda não percebi bem como é que se forma uma montanha.
- Como disse, havemos de falar sobre isso mais tarde. Mas para terem uma ideia geral que vos ajude a entender melhor esta nossa conversa de hoje, vamos imaginar uma série de lençóis, mantas de diversas qualidades e espessuras, cobertores, um édredon, uma porção de colchas, e o mais que quiserem, tudo bem esticadinho em cima da cama. Imaginemos que este empilhamento representa a espessura de camadas de sedimentos depositados no fundo de um oceano, ao longo de muitos e muitos milhões de anos, como é, por exemplo, o que está a acontecer no Oceano Atlântico, aqui ao nosso lado. Vamos agora abrir bem os braços e agarrar esta pilha de roupa, uma mão de cada lado, e apertá-la para o meio da cama. Fica tudo amarrotado, com dobras para cima e outras para baixo. Com a força dos nossos braços, em menos de dois metros de extensão desta roupa e em menos de dois segundos, fazemos, assim, o que a Terra faz, em milhares de quilómetros de fundo de um oceano e ao fim de muitos milhões de anos, usando para tal todas as forças que resultam da enormíssima fonte de calor armazenada no seu interior.
- Então, uma montanha são rochas dobradas. – Interrompeu o neto.
- É mais do que isso. Continuando a nossa explicação. A porção das dobras que fica para cima representa a parte de uma cadeia montanhosa que se eleva à superfície do terreno. Nos Himalaias esse valor atinge os 8000 metros de altitude.
- E a porção que fica para baixo, avô? – Perguntou, de imediato, o mesmo neto, interessadíssimo numa explicação que, pela primeira vez fazia luz na sua muita curiosidade.
- A porção dobrada que fica para baixo, - continuou o avô - representa a parte que se afunda na crosta terrestre, como se fossem as suas raízes que, volto a dizer, podem atingir os 70 km de profundidade. Como já disse e não é demais repetir, em virtude das elevadas pressões e temperaturas a que passam a estar sujeitas, as rochas sedimentares que assim se afundam na crosta, sofrem processos de metamorfismo, transformando-se em rochas metamórficas. Na parte ainda mais profunda destas raízes, reparem que estou a insistir no que já disse, com temperaturas na ordem dos 800 a 900 oC, as rochas começam a fundir, gerando um magma que, arrefecendo ao longo dos milhões e milhões de anos, se transforma em rochas magmáticas como os granitos, os sienitos, os dioritos, os gabros e outras menos conhecidas. Entendido?
- Sim, avô.
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1 Comments:
Que grande pedagogo!
Quem me dera que os meus filhos e netos o pudessem ter tido como professor.
Até eu próprio.
Um enorme abraço, querido amigo e professor.
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