4.1.12

Estuprem-nas, elas merecem

Por Manuel António Pina

A IGREJA espanhola não deixa as suas tradições de intolerância por mãos alheias.

Liderada hoje pelo cardeal Rouco Varela, herdeiro de outro cardeal arcebispo de Madrid, Goma y Toma, que dizia em 1936, ano do nascimento de Rouco: "Não pode haver pacificação senão pelas armas, há que extirpar a podridão da legislação laica", ou do bispo de Cartagena, Diaz Gomara, que clamou do púlpito "Benditos sejam os canhões!", saudando entusiasticamente a rebelião fascista de Franco contra o Governo legítimo de Espanha, a hierarquia católica espanhola continua a pregar o ódio em nome do seu "Deus que é amor".

Agora que Mariano Rajoy, próximo da Igreja, anunciou a intenção de "extirpar a podridão da legislação laica" do aborto aprovada pelo executivo de Zapatero, chegou-me às mãos uma homilia de Natal de outro arcebispo espanhol, desta vez o de Granada, Javier Jimenez, defendendo que uma mulher que aborta "dá ao homem a licença absoluta, sem limites, de abusar do corpo dessa mulher, porque ela é que trouxe a tragédia a si, e trouxe-a como se fosse um direito" (a homilia pode ser lida no sítio da Diocese de Granada).

Para o arcebispo, os crimes de Hitler e Estaline (esqueceu-se dos de Franco) "são menos repugnantes que o do aborto". É em alturas assim que até um não crente gostaria que existisse um Deus que julgasse esta gente.
«JN» de 4 Jan 12

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6 Comments:

Blogger Unknown said...

A prova que Deus não existe é estes senhores dizerem, e pior cometerem, as maiores atrocidadesem seu nome sem serem fulminados por um raio...
Cumps.

4 de janeiro de 2012 às 22:44  
Blogger Kurcudilo said...

Se Deus existisse, esta cambada já estava num Inferno qualquer !
Tupa que os rapiu !

5 de janeiro de 2012 às 01:09  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Nota do autor, publicada na crónica de hoje (5 Jan 12):

«Nota: Na passagem sobre as mulheres que abortam da homilia do arcebispo de Granada citada na crónica de ontem há um erro de tradução (de minha responsabilidade) que altera o seu sentido. Traduzi "traga", do verbo "tragar", como sendo uma forma do verbo "traer" (trazer) quando, de facto, é do verbo "tragar" (tragar; suportar). Assim, a parte final dessa passagem é "ela é que suporta a tragédia, e suporta-a como se fosse um direito" e não como publicado.»

5 de janeiro de 2012 às 09:21  
Blogger José Batista said...

Escandalizado, ontem fui ler a homilia.
E por acaso ficou-me a impressão de que a tradução feita (da afirmação: matar a un niño indefenso, ¡y que lo haga su propia madre! Eso le da a los varones la licencia absoluta, sin límites, de abusar del cuerpo de la mujer, porque la tragedia se la traga ella, y se la traga como si fuera un derecho") podia não exprimir exatamente o que o autor quis significar. Porém, como o meu espanhol é muito limitado...
Naturalmente, não concordo com o teor da afirmação do bispo, seja em que sentido for.
Mas a referência ao "dá ao homem a licença absoluta, sem limites, de abusar do corpo dessa mulher"... pode ter uma significação mais lata de desrespeito intrínseco pela condição, natureza e sensibilidade feminina, por parte dos homens, com uma suposta "colaboração" das mulheres, no sentido de, mais facilmente, as tornar "objeto de uso", sem que isso legitime, propriamente, o acto de estupro.
Gosto muito da escrita frontal e da clareza de ideias de Manuel António Pina. Mas julgo desnecessário pintar o negro de mais negro. É redundante, não é útil (em meu entendimento) e até pode conferir algum reforço dos motivos que, legitimamente, se pretendem refutar.

5 de janeiro de 2012 às 11:17  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Resposta de MAP ao comentário de J. Batista (que lhe reencaminhei):

-

Caro Medina Ribeiro:

Tem toda a razão o comentário de José Batista no Sorumbático a propósito da minha crónica "Estuprem-nas, elas merecem". Apercebi-me disso mal a crónica saiu e hoje mesmo fiz publicar uma nota no final da crónica do JN dando conta de que o erro de tradução (de minha responsabilidade) altera o sentido da frase. Estive quase até à 'dead line' de entrega da crónica às voltas com a tradução de "traga", pois a palavra se me afigurava algo esquisita enquanto forma do verbo "traer" - cuja irregularidade contém, no entanto, formas como "trajo" -; consultei diversos sites da Net com a conjugação de verbos espanhóis (pois não tenho em casa uma gramática dessa língua) e não me apercebi de que o significado de "tragar", além de "tragar, engolir", pode ser igualmente "suportar", Ainda pensei omitir pura e simplesmente a parte final da frase, mas isso pareceu-me pouco sério pois a truncaria. Acabei por optar por "trouxe", solução que encontrei também em http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/01/para-lider-catolico-mulheres-que.html, mas fiquei cheio de dúvidas. Continuei a matutar no assunto no dia seguinte e, com a ajuda do meu amigo Manuel Resende, actualmente em Bruxelas, que tem o génio das línguas e com quem já na véspera falara, concluiu que errara. Já publicada a cr´nica, a única coisa que podia fazer era assumir esse erro; daí a nota rectificativa que fiz hoje sair. Quem, como eu, escreve diariamente sob pressão do horário de fecho do jornal (admiti deixar a crónica para o dia seguinte até esclarecer o caso, mas, àquela hora da noite, já não tinha tempo para escrever outra...) sujeita-se requentemente a situações destas. Não é uma justificação, é só uma tentativa de explicação. Se eu fosse cristão, resolveria o problema rezando meia dúzia de terços, assim resta-me ficar de mal comigo mesmo.

Um abraço do
map

5 de janeiro de 2012 às 19:56  
Blogger José Batista said...

O comentário de Manuel António Pina é de uma enorme dignidade.
Só um Homem de grande caráter pode assumir tão cristalina retidão.
Não nos dá apenas boas leituras. Dá-nos também a bondade da sua pessoa.

Muito obrigado. Um grande abraço.

José Batista da Ascenção.

5 de janeiro de 2012 às 23:40  

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