16.3.05

A música celestial

Há dias, li num jornal que um músico tinha interrompido o recital que estava a dar devido ao facto de vários espectadores terem os telemóveis ligados.
Na parte mais deliciosa da história, ficámos a saber que precisamente um dos infractores foi à bilheteira exigir a devolução do dinheiro do bilhete!
Nesta história infanto-juvenil sucede o oposto:
*

Quem leu as incríveis histórias do «Dr.» Salvador decerto tomou conhecimento da forma como ele preparou uma exibição da sua filha, a Rosarinho, que tocava piano mas não conseguia enfrentar um auditório devido à sua timidez:
O extremoso pai arranjou uma aparelhagem de realidade virtual e... Mas o melhor mesmo é lerem a história!

Para não ocupar muito espaço aqui, a história está em "Comments".
*
Quanto ao boneco, mais uma vez não consegui metê-lo no lugar certo...

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Para o que aqui nos interessa, digamos apenas que o nosso amigo Jeremias, quando soube do que se passou, achou imensa graça e pôs-se a matutar nas possibilidades fantásticas das «novas tecnologias» no que respeita à arte em geral - e à música em particular.

Estava ele no refeitório a pensar nisso e a sorrir, quando começou a ouvir uma série de telemóveis a tocar, e todos ao mesmo tempo.

Bem... o facto, por si só, não era nada de extraordinário. O que era espantoso era serem muitos, cada qual com a sua música, mas – e ainda mais estranho! - relativamente afinados!

«Devem ser do mesmo fabricante» - pensou ele. E foi nessa altura que teve uma ideia espantosa! E tão espantosa, que já não foi capaz de acabar de almoçar sossegado!

Levantou-se à pressa, regressou ao seu gabinete, e ligou-se à Internet. Em seguida, começou a navegar nervosamente, em busca de informações acerca de músicas disponíveis.

Refiro-me, é claro, às músicas que os telemóveis tocam quando chamam, e das quais há uma variedade quase infinita.

O leitor deve estar a pensar que o Jeremias queria apenas variar a música do seu aparelho, mas o que ele tinha em mente era algo MUITO mais ambicioso! Digamos mesmo que era uma ideia perfeitamente LOUCA!

Eu explico:

Lembrou-se de reunir uns 40 ou 50 telemóveis e pôr cada um a tocar apenas uma nota musical. Arranjaria também um teclado de piano e uma engenhoca que faria actuar o aparelho respectivo – cada som correspondendo à tecla apropriada.

Assim, e se conseguisse arranjar maneira de o processo decorrer com grande rapidez, ao premir as teclas do falso piano os telemóveis começariam a tocar; e ouvir-se-iam os vários sons, numa sequência musical – uma verdadeira sinfonia como nunca ninguém presenciara!

Até aqui, a história parece uma patetice pegada, mas não é, pois a ideia dele era obter o patrocínio de um fabricante e de um operador de telecomunicações para a sua invenção. E tudo começaria por um pequeno concerto de demonstração a executar pela Rosarinho.

Não vou agora descrever aqui os detalhes do processo de fabrico, nem as negociações comerciais, nem sequer as difíceis conversas para convencer a jovem a actuar com um instrumento tão esquisito.

Mas tudo se resolveu: construiu-se um protótipo, escolheu-se uma música, e no dia combinado, num pequeno auditório de uma das empresas patrocinadoras, a Rosarinho lá tocou, o melhor que pôde, «As Quatro Estações» de Vivaldi! Na realidade, não tocou lá muito bem, mas tratava-se de uma sessão experimental e todos atribuíram o facto ao natural nervosismo; e ela prometeu continuar a ensaiar com redobrado afinco.

E, sem mais delongas, Jeremias começou logo a preparar um grande recital-surpresa num auditório-gigante, numa cerimónia de lançamento de um novo modelo de aparelhos.

Imagine-se a cena quando, finalmente, chegou o grande dia:

A Rosarinho, com o coração a bater descompassadamente, a cumprimentar o público com uma vénia, a ajeitar o longo vestido e a cadeira, e a preparar-se para tocar o «Para Elisa» em «Versão para telemóvel»!

E o pai e a mãe, na primeira fila, deliciados!

Nesse preciso momento Jeremias lembrou-se de uma coisa MUITO importante – e que, dada a situação, até dava vontade de rir.
Fez sinal à jovem que esperasse um pouco, avançou até ao microfone à boca de cena, agradeceu pela segunda vez a presença dos espectadores, e pediu... para desligarem os telemóveis!

Em seguida, satisfeito mas ansioso, retirou-se de novo para os bastidores enquanto as luzes se apagavam lentamente.
Nessa altura, o responsável do auditório aproximou-se do nosso amigo e comentou, sorrindo:

- Não precisava de ter feito esse aviso... A nossa sala é de última geração!

E esclareceu:
- Como há sempre alguém que se esquece de desligar o aparelho, o edifício é completamente blindado. Aqui dentro, felizmente, nenhum telemóvel funciona!

16 de março de 2005 às 10:03  

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